
Conhecido nacionalmente por sucessos como Pescador de ilusões e Minha alma, Marcelo Falcão dá continuidade à sua contribuição para a cultura brasileira com O legado. Segundo álbum solo do vocalista do Rappa, o trabalho busca dialogar com novas gerações da música — o disco inclui parcerias com os artistas L7NNON, Cynthia Luz, Orochi e Major RD —, além de celebrar as vozes que fizeram parte de sua jornada, representadas por Toni Garrido e Chorão.
"Esse disco foi feito para todos, assim como toda arte é feita. Mas ele não foi criado para agradar ninguém, nem para ganhar o Grammy. Ele é o legado que eu deixo para meu filho", declara Marcelo Falcão em entrevista ao Correio. "É um álbum muito direto e emocional. É algo que realmente toca as pessoas. Quando você sente que a música não é para você, você consegue direcionar para um amigo, para alguém que você admira", adianta o músico.
"Sou eu cantando diretamente para você aquilo que estava no meu coração nesses últimos anos", define o carioca. Acompanhado pelos principais nomes do rap atual no novo trabalho, Falcão se autodeclara um músico que abraça a nova geração: "Eles inventaram uma nova forma de criar música, assim como lá atrás a gente também fez o que tinha que ser feito".
As faixas de O legado, explica Falcão, foram construídas a partir da voz e do violão, como o artista sempre fez, com a adição de diferentes beats, inspirados pela nova geração da música. "Eu venho de uma época em que a gente tocava até arrebentar o dedo. Então a junção desses dois mundos me fez muito feliz", celebra o vocalista.
Para o carioca, manter o vínculo entre artistas de décadas passadas e os novos representantes da música brasileira é de extrema importância. "Eu me deito na ponte entre esses dois mundos para que todos passem por ela. Para que a gente possa usufruir, cantar e comungar junto. E acho que consegui isso", afirma Falcão.
O ponto alto do projeto, entretanto, é a parceria com Chorão. A faixa que dá nome ao álbum traz um sample inédito da voz do líder do Charlie Brown Jr., resgatado a partir de mais de 30 mil arquivos cedidos a Falcão por Xande, filho do cantor que morreu em 2013. A partir deles, o vocalista do Rappa pesquisou as palavras mais usadas, selecionou trechos e inseriu a voz original do paulista na música.
"Eu precisava fazer essa homenagem a esse irmão que não está mais entre nós", diz o artista. "Quando tive acesso aos arquivos, foi uma choradeira. O filho dele é como se fosse um afilhado meu. Ele é um cara que vive no meu coração", continua. A ideia de legado também é reforçada no videoclipe da música, estrelado por Xande e pelo filho de Falcão, Tom, de 6 anos.
O Rappa
"O Rappa não acabou, eu e os três outros integrantes da banda sabemos disso. Mas eu sempre leio pessoas se referindo a mim como "o ex-vocalista do Rappa". Pô, eu estou vivo", brinca Marcelo Falcão. Em maio de 2017, um dos principais grupos brasileiros de reggae anunciou uma pausa nas atividades por tempo indeterminado. Os últimos shows do quarteto foram realizados em fevereiro de 2018. "Um dia eu vivi uma história com o Rappa, hoje eu vivo a minha história. Acho que foi necessário ter feito isso", avalia o cantor.
"Eu queria fazer as minhas coisas e não dava para fazê-las ao mesmo tempo que eu estava no grupo. Eu precisava testar novas oportunidades", defende Falcão. "Enquanto estamos em pausa, eu tenho essa grande oportunidade de viver uma experiência que é particular, mas que divido com novas pessoas na minha vida. Foram 25 anos lá e tem sido alguns anos aqui. Eu precisava disso", frisa o vocalista.
O pontapé inicial da carreira solo de Falcão se deu em 2019, com o álbum Viver (Mais leve que o ar). "Nele, eu falo de vida e espiritualidade. Mas logo depois do lançamento, a gente caiu em uma pandemia que dificultou para todo mundo — até para o disco que havia acabado de estrear, mas não podia ser apresentado nos palcos", lamenta.
"Eu tenho um carinho profundo por Viver, mas ele era um desabafo de muitos anos do meu coração. Eu tinha acabado de ser pai, então tinha muita emoção, que fez com que eu falasse de vida de uma forma muito espiritual e muito linda. Mas no meu novo disco, eu consigo ver que tudo depende das nossas conexões. Eu queria realmente mostrar que legado é nunca esquecer quem veio antes de você", ressalta Falcão.
"Eu consigo me ver mais para frente cantando de uma forma mais solo, porque eu já vou ter experimentado para caramba", adianta. "Mas eu acho que não experimentar essa história de parcerias e colaborações seria ter entrado na carreira solo e não ter feito o que é para ser feito", pondera o cantor. "Quero que meu filho um dia possa falar: 'Que bacana, pai, você trabalhou com esse aqui, com aquele outro, gigantes da música', torce o carioca.
Vapor barato
“Eu tenho oportunidade de dizer que a gente regravou uma música de dois dos maiores gênios da era da Tropicália, um período que influenciou muito a gente”, destaca Falcão ao ser questionado sobre Vapor barato, composição de Jards Macalé e Waly Salomão. O novo álbum do músico chega às plataformas digitais no mesmo mês da morte do anjo torto da MPB, responsável pela faixa que se tornou um dos principais sucessos do Rappa.
Para Falcão, é motivo de orgulho ter se tornado um dos intérpretes da música. “É uma letra linda, sofrida. Eu pago o maior pau como cantor. É uma obra de arte. Na época, eu era muito novo para saber o tamanho dessa grandiosidade. Nem ouvi a versão da Gal antes de gravarmos a nossa. Eu só me importava com a letra. Fiz a mesma coisa com Súplica cearense, não quis ouvir o Fagner cantando antes. “A letra já me tocou, já sei o que eu vou fazer”, eu falava. E deu certo”, lembra o vocalista.
“Jards foi um gênio, um monstro da música. Ele é um cara que, só com voz e violão, ele já matava mil no peito. Vai fazer muita falta”, lamenta.
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