LITERATURA

Itamar Vieira Junior revela como a oralidade guiou a criação de ‘Torto Arado'

Na FliParaíba 2025, o autor reconstruiu o longo percurso que começou na adolescência e revisitou o desafio de transcrever a sonoridade do sertão

Itamar Vieira Júnior -  (crédito: Adenor Gondim/Divulgação)
Itamar Vieira Júnior - (crédito: Adenor Gondim/Divulgação)

Itamar Vieira Junior, autor premiado de romances que exploram as camadas profundas da sociedade brasileira, é um dos convidados do FliParaíba 2025. Reconhecido por obras como Torto Arado, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti e o Prêmio Oceanos, Itamar traz ao festival uma reflexão sobre personagens que carregam os silêncios de suas vivências.

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Integrante da mesa “A palavra dançando no ouvido”, também composta por Bráulio Tavares (Paraíba) e Iza Mara Poetiza (Pernambuco), o baiano revisitou o desafio de transcrever a sonoridade do sertão. Ele lembrou que a primeira ideia de Torto Arado surgiu ainda na adolescência, quando morou em Pernambuco após a mudança da família para o Porto de Suape. Na época, teve aulas com a professora paraibana Teresinha Acioli, cuja maneira vibrante de ensinar despertou nele o impulso de ler e de escrever sobre o universo nordestino, mesmo não tendo crescido em uma família de leitores.

No entanto, a primeira tentativa de romance, 80 páginas datilografadas, foram interrompidas por falta de maturidade. Nos anos seguintes, enquanto concluía o mestrado, se tornava servidor público e atuava em campo no Maranhão e na Bahia, a história permaneceu com ele. Até que percebeu ter chegado o momento certo de colocar a história no papel.

Durante o trabalho de campo, ele passou a registrar falas de diferentes grupos sociais. “Eu via uma cadência, uma harmonia, uma musicalidade naquelas expressões de vida”, narrou. A partir daí, desenvolveu um método que se tornaria central em seu processo literário. “Eu costumava gravar as conversas. Não era nem celular, era um gravadorzinho antigo, que os antropólogos usaram. E depois eu transcrevia tudo. Porque só escutar não era suficiente. E no processo de transcrever, percebia que cada um tinha sua maneira de dizer, sua maneira de contar a história”, afirmou.

Esse acúmulo de escutas foi determinante para a definição da voz narrativa. Segundo Itamar, o despertar veio quando percebeu a necessidade de manter a autenticidade da fala: “Preciso contar a história das maneiras que as pessoas contam.” Depois de tentar escrever em terceira e segunda pessoa, encontrou o caminho que considerou mais coerente com o projeto. “Fiz a tentativa de narrar em primeira pessoa. O trabalho do escritor é sempre um trabalho de mediação: eu estou mediando o que está na minha imaginação, na minha criação literária, para que isso encontre o leitor”, explicou.

Assim, a oralidade assumiu um papel definitivo. “Por mais que a literatura seja um registro escrito, ela nasce da oralidade. Quando eu penso nas tragédias gregas, elas eram escritas, mas, sobretudo, atuadas, faladas. A poesia moderna, como conhecemos, nasce da trova, que é uma poesia cantada.” No final, Itamar reconhece que o projeto deslanchou a partir da percepção da importância da oralidade.

*A jornalista viajou a convite da Secretaria de Estado da Cultura da Paraíba

 

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postado em 29/11/2025 19:28
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