FALTA VACINAÇÃO

Brasil volta à lista dos países com mais crianças não vacinadas

Relatório da OMS e Unicef alerta para queda na imunização infantil no Brasil, que registrou mais de 229 mil crianças sem vacina em 2024

Em 2024, nenhuma das 17 vacinas oferecidas pelo Programa Nacional de Imunização (PNI) alcançou uma cobertura de 90% -  (crédito: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Em 2024, nenhuma das 17 vacinas oferecidas pelo Programa Nacional de Imunização (PNI) alcançou uma cobertura de 90% - (crédito: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

O Brasil voltou a figurar entre os países com maior número de crianças não vacinadas, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Unicef, divulgado na terça-feira (15/7). O dado usa como indicador a cobertura da vacina tríplice bacteriana (DTP), que protege contra difteria, tétano e coqueluche. O país havia saído da lista em 2023, após a retomada das campanhas de imunização.

A coordenadora da Câmara Técnica de Enfermagem em Saúde da Criança do Cofen, Ivone Amazonas, alerta para a queda preocupante da cobertura vacinal. Em 2023, 103 mil crianças brasileiras não estavam vacinadas. Em 2024, o número mais que dobrou: 229 mil. A vacina pentavalente, administrada aos 2, 4 e 6 meses, inclui proteção contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenzae. O reforço com a DTP ocorre aos 15 meses e aos 4 anos.

Ivone destaca a importância de estratégias para alcançar famílias e gestantes, que devem receber a DTPa — também disponível no SUS — garantindo proteção aos recém-nascidos. Segundo ela, a eficácia das vacinas pode criar uma falsa sensação de segurança: “São doenças graves e ainda circulam.”

Em 2024, o Brasil registrou mais de 7.440 casos confirmados de coqueluche, conhecida como “tosse comprida”, caracterizada por acessos de tosse seca que podem causar chiados agudos. O tétano, associado à alta letalidade, continua presente, com 188, 205 e 219 casos confirmados entre 2022 e 2024, principalmente entre adultos e idosos. A letalidade segue alta, acima de 26% nos três anos. Já a última morte por difteria ocorreu em 2017, em uma criança migrante na fronteira com a Venezuela.

Cenário global estagnado

O relatório mostra que nove em cada dez crianças receberam ao menos uma dose da vacina DTP, e 85% completaram as três. Outros 5,6 milhões estão parcialmente imunizados. Entre 195 países analisados, 131 mantêm cobertura acima de 90% para a primeira dose desde 2019, mas só 17 conseguiram ampliar essa taxa nos últimos cinco anos. Em 47 países, o progresso está parado ou regredindo.

Atualmente, 14,3 milhões de crianças no mundo não tomaram sequer uma dose da vacina contra difteria, tétano e coqueluche. Mais da metade delas vive em apenas dez países, incluindo Afeganistão, Etiópia, Índia e Nigéria. Crises humanitárias e conflitos estão entre as principais causas.

Outras coberturas preocupam

A vacinação contra o sarampo segue crítica: em 2024, 84% das crianças de dois anos haviam recebido a primeira dose, e 76% a segunda. Já a proteção contra febre amarela em áreas de risco foi de apenas 50%, bem abaixo dos 80% recomendados. O relatório também recomenda a expansão da vacina contra malária, eficaz na prevenção de mortes infantis na África subsaariana.

A vacinação contra o HPV teve avanço, passando de 17% em 2019 para 31% em 2024 entre meninas. O objetivo global é atingir 90% até 2030. O vírus está relacionado a diversos tipos de câncer, incluindo o do colo do útero, um dos mais incidentes entre mulheres no Brasil.

O papel da enfermagem

A Enfermagem é peça-chave na vacinação no Brasil, sendo responsável pela cadeia de frios, administração, prescrição, monitoramento de efeitos adversos e busca ativa nos territórios. Hoje, o país conta com 35 mil salas de vacina coordenadas por enfermeiros em todo o território nacional.

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postado em 17/07/2025 11:31
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