
A abertura do 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Goiânia, foi marcada por homenagens aos estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA) que morreram no acidente da BR-153, em Porangatu (GO), na madrugada da véspera, e pela presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de vários ministros. Foi a segunda visita de Lula à capital goiana desde o início do terceiro mandato.
Os estudantes da UFPA Welfesom Campos Alves, Leandro Souza Dias e Ana Letícia Araújo Cordeiro, que morreram no acidente, foram homenageados pelo presidente Lula, que pediu um minuto de aplausos no Centro de Cultura e Eventos Professor Ricardo Freua Bufáiçal, na Universidade Federal de Goiás (UFG).
Antes de subir ao palco principal, o petista reuniu-se reservadamente com estudantes que sobreviveram ao acidente, oferecendo solidariedade pessoal à delegação paraense. Ele também colocou à disposição a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) para apoiar os feridos. "Eles estavam vindo para ouvir esse discurso e sonhar junto com a juventude brasileira. Não podemos deixá-los de fora desta história", afirmou o presidente, visivelmente comovido.
Ao lado da presidenta da UNE, Manuela Mirella, Lula agradeceu o apoio histórico do movimento estudantil às transformações na educação promovidas durante seus mandatos e destacou os desafios enfrentados para ampliar o acesso ao ensino superior no Brasil.
A presidente da UNE, por sua vez, também homenageou os estudantes mortos. "Aos que tiveram seus sonhos interrompidos, nenhum minuto de silêncio, mas toda uma vida de luta" , disse ela.
"Sou muito grato a todo o papel que a UNE teve nos meus dois primeiros mandatos, nos mandatos da presidenta Dilma Rousseff, e, agora, nesse terceiro mandato. A UNE é responsável pelo fato de a gente ter conquistado tantas coisas no ensino deste país", afirmou o presidente, sob aplausos de centenas de estudantes presentes ao evento. Ele também destacou o papel histórico da UNE na luta por uma educação pública de qualidade. No evento, Lula recebeu uma carta dos estudantes com críticas ao arcabouço fiscal e pedido de mais investimentos na educação. (Leia mais na página 7)
O petista ainda fez questão de lembrar que, mesmo dentro da UNE e do movimento estudantil, muitas vezes, houve resistência às propostas do governo. Ele citou como exemplo a ampliação do número de vagas por sala de aula no programa Reuni, criado para reestruturar e expandir as universidades federais. Outro tema abordado por Lula foi a criação do Prouni, programa que concede bolsas de estudo em instituições privadas para estudantes de baixa renda. Segundo ele, a iniciativa foi alvo de críticas à época, por supostamente beneficiar o setor privado. "Muita gente dizia que a gente ia ajudar a burguesia brasileira que cuidava da educação. Mas a UNE ajudou a mostrar que estávamos cobrando uma dívida e transformando em oportunidade", explicou.
O presidente ressaltou também as mudanças promovidas no Fies, programa de financiamento estudantil. "Essas coisas não foram poucas. Em poucos anos, saímos de 3,5 milhões para quase 9 milhões de alunos no ensino superior. É pouco, mas é muito diante do que a elite brasileira não fez em 400 anos", acrescentou.
Lula ressaltou que, embora não tenha diploma universitário, foi o presidente que mais investiu no setor. "Isso não é motivo de orgulho. Mas fui o presidente que mais fez universidades, mais fez escola técnica, que mais investiu em educação", afirmou. Ele comparou sua trajetória à do sindicalista polonês Lech Walesa, líder do movimento Solidariedade e primeiro presidente eleito da Polônia pós-comunista. "O Walesa foi eleito com apoio da elite e teve 0,5% dos votos na reeleição. Eu tinha medo de não conseguir governar. Mas o desafio da esquerda é fazer acontecer as nossas próprias reivindicações. Foi por isso que começamos a fazer universidades."
Durante o evento da UNE, Lula sancionou a lei que amplia a assistência estudantil. A nova legislação assegura condições de permanência e conclusão dos cursos para jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica, especialmente os beneficiados pela nova Lei de Cotas. Os recursos, provenientes dos royalties e participações especiais da exploração de petróleo e gás natural serão aplicados na Política Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) e em programas similares de estados e municípios. A legislação também prevê a criação de um Sistema Nacional de Informações e Controle, com divulgação obrigatória dos dados em portais de transparência.
Também participaram da cerimônia os ministros da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macedo; da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos; da Educação, Camilo Santana; e da Cultura, Margareth Menezes. Os parlamentares presentes abriram seus discursos prestando homenagem e respeito aos jovens que perderam a vida no caminho ao Congresso.
Vítimas do acidente
Além dos três estudantes universitários, morreram no local do acidente o motorista do ônibus e servidor UFPA Ademilsom Militão de Oliveira, e o motorista da carreta que vinha na contramão e chocou frontalmente com o ônibus das vítimas. Outras oito vítimas sofreram ferimentos graves e foram encaminhadas para os hospitais de Porangatu (GO), Uruaçu (GO) e Alvorada (TO).
O jornal A Verdade publicou uma nota de pesar em homenagem aos três estudantes da UFPA. Welfesom Campos Alves, aluno de produção e multimídia, e Leandro Souza Dias, estudante de farmácia, eram militantes da Unidade Popular (UP) e trabalhavam na publicação. Campos também era funcionário do Sindicato dos Trabalhadores Portuários do Pará e Amapá (Sindiporto PA/AP). Leandro ainda fazia parte do Movimento Correnteza.
Ana Letícia Araújo Cordeiro, estudante de pedagogia. Campos e Souza trabalhavam na publicação. Ana Letícia Cordeiro, estudante de pedagogia, era descrita por conhecidos como uma pessoa carismática e calma. O Centro Acadêmico da faculdade a que pertencia afirma que ela "era muito querida por todos e todas na turma" e que a presença dela "marcava os dias com leveza".
O ônibus que levava os estudantes integrava um comboio com quatro veículos que saiu da UFPA com destino à Goiânia, onde está sendo realizado o Congresso da UNE. A Universidade Federal do Pará comunicou, nas redes sociais, que segue mobilizada no acompanhamento da tragédia, prestando apoio para os familiares das vítimas e que aqueles estudantes que decidirem voltar para Belém terão o meio de transporte ofertado pela instituição. O traslado Ainda dos corpos será feito pela instituição, mas ainda não há marcada, porque ainda não houve liberação do Instituto Médico Legal (IML) de Goiânia.
De acordo com informações do Ministério da Educação, a expectativa é de que 10 mil estudantes participem do Congresso da UNE, que termina no domingo (20).
*Estagiário sob a supervisão de Rosana Hessel
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