
A execução do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes, na noite de segunda-feira, em Praia Grande (SP), foi planejada com pelo menos cinco meses de antecipação. É o que indicam as investigações da Polícia Civil de São Paulo, por conta dos furtos de dois veículos utilizados na crime. A Toyota SW4 flagrada pelas câmeras de segurança na perseguição ao carro do policial aposentado tem uma comunicação de furto registrada em julho, enquanto que o Jeep Renegade usado na fuga foi levado em março. O grupo teria usado um terceiro carro para desaparecer — e que ainda não foi encontrado.
Além disso, as apurações indicam que a execução de Ferraz foi cometida por um bando possivelmente terceirizado pelo Primeiro Comando da Capital, mas especializado nesse tipo de operação. Isso porque, conforme registram as imagens, cada integrante tinha uma função específica na abordagem: o motorista em momento algum deixou o carro utilizado na fuga; um segundo homem parou o trânsito, ameaçando os motoristas; e os dois outros fizeram os disparos contra o delegado.
Além disso, os matadores utilizaram armas de vários (e grossos) calibres, além de estarem protegidos com coletes balísticos, o que indica estarem preparados para enfrentar uma troca de tiros com forças de segurança. A perícia contou 29 perfurações no Fiat Argo em que Ferraz estava, que pertencia à mulher do policial aposentado.
Na fuga, os bandidos incendiaram a Toyota, mas, por algum motivo, deixaram o Renegade intacto. Isso está sendo considerado a grande falha da operação e, por causa disso, as investigações estão tratando com reservas as provas recuperadas pela Polícia Científica, capazes de oferecer traços que identifiquem os assassinos. Mesmo assim, dois suspeitos foram identificados e a Justiça expediu oito mandados de busca e apreensão, cumpridos ontem.
Os investigadores tomaram os depoimentos de quatro pessoas ligadas aos possíveis envolvidos na execução de Ferraz, e afirmaram não saber onde estariam os supostos envolvidos. Um dos que é apontado como participante do assassinato, de 33 anos, tem passagens pela polícia por roubo, tráfico de drogas e é ligado ao PCC.
Nas diligências, as equipes dos departamentos de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e Estadual de Investigações Criminais (DEIC) apreenderam objetos que serão periciados. A polícia também está analisando os celulares de Ferraz em busca de pistas que possam esclarecer se a motivação do crime é recente — a polícia trabalha com a hipótese de que, como secretário de Administração de Praia Grande, ele tenha desagradado alguma empresa ligada ao PCC em licitação pública — ou se é uma vingança da facção — que combateu quando foi delegado-geral da Polícia Civil paulista, entre 2019 e 2022.
Jurado de morte
Relatórios do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do estado (MP-SP), registram que o Primeiro Comando da Capital planejava a morte de Ferraz desde o início dos anos 2000. Ele foi jurado de morte por Marcos Herbas Camacho, o Marcola, principal chefe da facção, que está preso no presídio federal de Brasília.
A execução ocorreu depois de o delegado ser perseguido por criminosos, depois de deixar o prédio da Prefeitura do município. Imagens de segurança mostram que seu carro foi atingido por dezenas de disparos e colidiu com um ônibus antes de capotar. Ferraz não teve chance de defesa, pois sua pistola pessoal foi encontrada em uma bolsa.
Segundo o governo paulista, Ferraz não solicitou proteção do Estado depois que se aposentou. O delegado, inclusive, tinha um carro blindado, que utilizava quando tinha de ir à capital, mas costumava utilizar o Fiat Argo.
* Estagiário sob a supervisão de Fabio GrecchiSaiba Mais