
Diversos estudos tentam compreender e explicar os sentimentos femininos durante todos os períodos da menopausa. No entanto, a maioria das pesquisas foca nos sintomas depressivos sentidos no período, mas deixam de lado outro sentimento importante: a raiva.
Um estudo realizado pelo Seattle Midlife Women’s Health Study, de autoria das doutoras Nancy Fugate Woods e Ellen Sullivan Mitchell, e publicado no portal cientifico EurekAlert!, tentou entender e explicar essa raiva.
A pesquisa, intitulada como Raiva, envelhecimento e envelhecimento reprodutivo, explica questões relacionadas ao período de mudanças hormonais em questão vividos pela comunidade feminina. Da mesma forma, também são discutidas as influências das alterações hormonais nas emoções, assim como a importância e necessidade da existência de mais estudos sobre a raiva feminina.
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O novo estudo mostra que os níveis de raiva e estresse diminuem significativamente à medida em que as mulheres envelhecem e avançam na vida adulta, momento conhecido como 'midlife' em inglês, algo como 'segunda idade' em português.
Detalhes
O estudo diferencia os sentimentos de raiva e hostilidade. De acordo com as autoras, a raiva é definida como algo antagônico à algo ou alguém. É, além disso, considerada como uma construção multidimensional.
A hostilidade, enquanto isso, é descrita como um traço. Para melhor explicar a questão, foi utilizado o Inventário de Expressão de Raiva Estado-Traço (STAXI), que é um instrumento de 44 itens desenvolvido para medir a raiva; e a Subescala de Hostilidade do SCL-90, responsável por avaliar sintomas relacionados à agressividade, irritabilidade, raiva e ressentimento.
Diversos tipos de raiva, de acordo com o STAXI, foram avaliados, depois de divididos em subescalas. Exemplos são Raiva Estado (intensidade de sentimentos de raiva em um momento específico); Raiva Traço (propensão à raiva; Temperamento da Raiva (propensão a sentir e expressar raiva indiscriminadamente); Reação à Raiva (disposição para expressar raiva quando criticado)e Raiva Retida (frequência com que a raiva é contida ou suprimida).
Outros ainda são mencionados, como Raiva Externa (frequência com que a raiva é expressa agressivamente em relação a outros ou objetos); e Controle da Raiva (frequência de tentativas de controlar a expressão externa da raiva). A subescala de Hostilidade do SCL-90 avalia itens como irritabilidade, explosões de raiva e impulsos agressivos.
O estudo relata que certos indicadores de raiva e as respectivas expressões diminuem com a idade. Outros, como a raiva de estado e de traço, em contrapartida, aumentam. É justamente isso que sugere uma possível regulação emocional durante o período da 'meia-idade'. Outros diferentes resultados foram divulgados.
Prática e conclusões
Estudos subsequentes mostram que existe relação entre raiva e depressão. Mulheres com problemas de raiva são mais suscetíveis a desenvolver sintomas de depressão mais severos durante a transição para a menopausa. Esse foi o efeito mais forte para aquelas que fazem uso de terapias hormonais para tratar dos sintomas da menopausa. Apesar disso, nenhum estudo levou em consideração a progressão dos traços de raiva durante o período de transição.
A parte prática envolveu 501 mulheres, entre 35 e 55 anos de idade. A coorte populacional, descritA como um grupo específico de pessoas, foi recrutada pelo SMWHS (Seattle Midlife Women’s Health Study) entre 1990 e 1992. Um total de 271 mulheres foram incluídas em análises mais específicas, ao atender aos critérios de elegibilidade. Forneceram, em adição, dados completos em cada ocasião de medição.
Era preciso, além de estar dentro do corte de idade, não estar grávida, ter o útero intacto, possuir pelo menos um ovário, ter tido no mínimo um período menstrual no último ano e ser capaz de ler e entender inglês. O principal objetivo foi de examinar a influência do envelhecimento e das etapas do envelhecimento reprodutivo diante dos episódios de raiva.
Através dos resultados, pôde ser concluído por parte dos pesquisadores que a idade cronológica possui relação significativa com a maioria das medidas de raiva. Inclusive, com reação de raiva, temperamento raivoso, raiva expressa e externada de forma agressiva e a própria hostilidade. Todas as formas de raiva citadas diminuíram significativamente com o passar do tempo. Somente a raiva reprimida não se relacionou.
Além disso, os estágios descritos como pertencentes ao envelhecimento reprodutivo afetaram, também, a raiva. Isso resultou na diminuição dos estágios reprodutivos tardios. Sugere-se, portanto, uma melhor regulação emocional durante o período da meia-idade.
"O lado da saúde mental durante a transição para a menopausa pode ter um efeito significativo na parte pessoal e profissional da vida de uma mulher. Esses aspectos, do momento pré-menopausa, nem sempre foram reconhecidos e contemplados", relata a Dra. Monica Christmas, diretora médica associada da The Menopause Society.
"As alterações nas concentrações hormonais em períodos pós-parto, assim como em idade reprodutiva, correspondentes aos ciclos menstruais e durante a perimenopausa, podem, sim, resultar e, oscilações de humor associadas à raiva e à hostilidade. Por isso, educar as mulheres sobre a possibilidade dessas alterações de humor e o gerenciamento dos sintomas pode ter um forte efeito na qualidade de vida e na saúde, de forma geral", complementa.