saúde ocular

Secura lota consultórios com casos de olho seco e inflamação nas pálpebras

Aridez da capital aumenta casos de irritação ocular e blefarite; especialista alerta para os riscos do uso excessivo de telas e ar-condicionado

Queixas de ressecamento e ardência nos olhos crescem durante o período de seca no DF -  (crédito: Freepik)
Queixas de ressecamento e ardência nos olhos crescem durante o período de seca no DF - (crédito: Freepik)

Em Brasília, o clima seco afeta mais do que a pele e a respiração. A baixa umidade do ar também provoca desconfortos oculares que, em muitos casos, evoluem para a síndrome do olho seco — distúrbio que compromete a lubrificação natural dos olhos — e para a blefarite, a inflamação das pálpebras.

Segundo a médica oftalmologista Stefânia Diniz, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), as queixas de irritação ocular aumentam cerca de 25% entre maio e setembro, justamente quando a umidade relativa do ar em Brasília cai abaixo dos 20%, patamar inferior ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

“O olho humano precisa de uma película lacrimal estável para manter a superfície ocular lubrificada e protegida. Em períodos de ar extremamente seco, essa película evapora com mais facilidade, causando ardência, vermelhidão, sensação de areia e visão borrada”, explica.

A síndrome do olho seco ocorre quando há deficiência na produção ou alteração na qualidade das lágrimas, deixando a superfície ocular vulnerável. Embora possa ter diferentes causas, é altamente sensível às variações ambientais. “No clima de Brasília, especialmente durante o período seco, até pessoas sem histórico oftalmológico passam a sentir desconforto. E quem já tem predisposição sofre ainda mais”, destaca a médica. 

Durante o período de estiagem em Brasília, Stefânia descreve que a umidade do ar pode chegar a níveis comparáveis aos de um deserto — quando os olhos são um dos primeiros órgãos a sofrer. Os sintomas iniciais mais comuns incluem ardência, sensação de areia nos olhos, visão embaçada ao final do dia, lacrimejamento e vermelhidão ocular. “Muitos pacientes também relatam cansaço visual e dificuldade de manter os olhos abertos por longos períodos”, exemplifica. 

O problema é agravado pelo uso prolongado de telas — seja computador, celular ou televisão. “Quando estamos diante de uma tela, piscamos menos, o que favorece a evaporação da lágrima e aumenta o risco de irritação ocular”, destaca. Conforme a especialista, as telas diminuem o número normal de piscadas em 60%

“Essa redução no número de piscadas faz com que a lágrima evapore mais rapidamente e a superfície ocular fique desprotegida. Com o tempo, isso causa inflamação, instabilidade do filme lacrimal e desconforto persistente. Por isso, recomendamos a chamada “regra 20-20-20”: a cada 20 minutos, olhar para um ponto a 20 pés (cerca de 6 metros) de distância por 20 segundos, piscando de forma consciente”, recomenda a médica. 

Outro vilão da saúde ocular é o ar condicionado, que reduz ainda mais a umidade do ambiente e acelera a evaporação da lágrima, assim como ventiladores e a exposição prolongada a ventos ou poeira. “Hábitos como ingestão insuficiente de água, dietas pobres em ômega 3, consumo excessivo de cafeína e álcool, tabagismo, medicamentos e uso de lentes de contato prolongado podem piorar a lubrificação natural dos olhos”, complementa Stefânia.

A blefarite, inflamação nas pálpebras causada pelo entupimento das glândulas que produzem a camada oleosa da lágrima, também é comum nesse período. “A blefarite está diretamente relacionada ao olho seco. Quando as glândulas meibomianas não funcionam bem, a lágrima perde qualidade, evapora mais rápido e os sintomas se intensificam”, explica Stefânia. Os sinais mais frequentes incluem coceira nas pálpebras, crostas nos cílios ao acordar, vermelhidão e, em casos mais severos, queda de cílios e infecções recorrentes.

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Durante a seca, pequenas medidas ajudam a proteger os olhos, como piscar com mais frequência, evitar ambientes com ar-condicionado excessivo, utilizar umidificadores ou recipientes com água nos cômodos, usar colírios lubrificantes sem conservantes — sempre sob orientação médica — e manter a higiene das pálpebras com produtos específicos. “Manter-se bem hidratado é fundamental. Em casos mais intensos, o uso de lágrimas artificiais pode aliviar bastante o desconforto, sempre com orientação médica”, diz Stefânia

A especialista alerta ainda que o uso inadequado de colírios pode agravar os sintomas ou mascarar doenças oculares mais sérias. Isso porque nem todo colírio é apenas lubrificante. “Muitos produtos vendidos livremente contêm vasoconstritores ou conservantes que, a longo prazo, podem agravar o ressecamento e causar dependência ocular. Além disso, o olho seco pode ser um sintoma secundário de doenças mais complexas”, ressalta. 

 “O ideal é sempre procurar um oftalmologista, especialmente se os sintomas forem frequentes ou persistirem. Em uma cidade como Brasília, onde a secura do ar é constante, cuidar dos olhos é uma questão de saúde”, conclui.

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postado em 09/10/2025 18:19
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