
No mesmo Cine Brasília (EQS 106/107) em que, há 11 anos, o cineasta Jorge Bodanzky recebeu de uma colega uma cópia de filme realizado, quando ainda era universitário, haverá nesta sexta (11/7), de graça, a projeção de duas produções do diretor. A partir das 19h, será exibido justo o curta recuperado Os caminhos de Valderez, feito quando o realizador estava nos bancos da UnB. Na sequência, o Cine Brasília, na mostra Que país é este?, trará a exibição de clássico restaurado, Iracema - Uma transa amazônica, feito por Bodanzky, ao lado de Orlando Senna (autor do roteiro). Censurado por anos no Brasil, o longa Iracema: Uma transa amazônica integrou o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro de 1980, quando foi tido como revolucionário e faturou os prêmios de melhor filme, atriz (Edna de Cássia), atriz coadjuvante (Conceição Senna) e montagem (função que Eva Grundman dividiu com Bodanzky). Ele ainda respondeu pela música e fotografia da fita.
"Ter mostrado o filme em Berlim (no festival, em fevereiro passado), 50 anos depois de pronto, foi um sonho. O longa foi produzido pela televisão alemã, e foi lá que tivemos a apresentação da cópia restaurada, numa estreia mundial do trabalho de restauração pela Alice Andrade, feito a partir dos negativos e magnéticos de som originais localizados na Alemanha. A digitalização foi feita por lá e a finalização aqui no Brasil. Então é um filme novo: a gente vê coisas que eu não enxerguei naquele tempo, em que fiz o filme, e ouvindo coisas que eu não tinha condições de ouvir, dada a qualidade que as cópias tinham na época em que o filme foi feito", conta, em entrevista ao Correio.
O ponto de partida do enredo, que registra um Brasil desfalcado de grandeza se dá na celebração do Círio de Nazaré (Belém), local em que o personagem Tião Brasil Grande (Paulo César Pereio, morto no ano passado), um caminhoneiro, se engraça por Iracema (Edna). Daí se cristaliza uma história de encanto e abandono. O longa foi realizado em 16 mm, em 1974, seis anos depois do retorno do cineasta ao Brasil, depois de estudos no Institut Fuer Filmgestung Ulm (Alemanha).
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"Este resgate do Iracema é um momento muito feliz e, ao mesmo tempo, estou muito apreensivo: tudo aquilo que o filme coloca — absolutamente tudo — o trabalho escravo, a exploração de menores, a ocupação irregular de terra, queimadas, a exploração de madeira, a entrada das grandes empresas, questões do gado —, tudo isso continua do mesmo jeito! O projeto da ditadura militar; a preocupação atrelada à Amazônia, não mudou em nada, na sua essência até os dias de hoje", completa o cineasta, que estará presente para debate, após a exibição.