
Em 1982, Nicolas Behr ajudou a criar o Movimento Ecológico de Brasília (Move), a primeira ONG ambientalista da capital; cinco anos depois, em 1987, juntou-se à Fundação Pró-Natureza, ONG responsável pela criação do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. No início dos anos 1990, o poeta criou o viveiro de plantas Pau-Brasília, com a coleta e produção de mudas, que mantém até hoje. A relação de uma vida com o Cerrado é o tema do novo livro de poemas de Behr, EnCerrado, que tem lançamento marcado para este sábado (23/8), de 9h às 17h, no viveiro Pau-Brasília, localizado na saída norte do Polo Verde, entre a ponte do Bragueto e o balão do Torto.
A escrita do livro durou um ano, mas, na verdade, "levou a vida toda, porque é fruto de uma experiência acumulada", conta Behr. "Cada poema é uma transposição via linguagem. Você tem uma informação e quer transformar em poema, então usa linguagem, que é o meio de transpor informação científica em poema", explica o escritor. Uma das ideias para o livro surgiu da experiência do poeta em palestras em escolas, por exemplo. Quando Behr pedia que os alunos falassem um animal do Cerrado, ouvia respostas como "leão" ou "girafa". Daí surgiu o TV Cerrado: "olha o coala! / não. é um tamanduá-mirim / um leão magro? / não. é um lobo-guará / um hipopótamo? / que nada. é uma anta / olha a avestruz! / errou. é uma ema / um chimpanzé! / rapaz, é um macaco-prego / um leopardo! / não. é uma onça / o cachorro-do-mato / num mato-sem-cachorro"
Behr descreve EnCerrado como um "manifesto": "Ele tem um quê de induzir ação, é um livro engajado. No final do livro, tem contato de ONGs. Eu queria que a pessoa entrasse em contato com elas ou tomasse uma ação, valorizasse o Cerrado". O livro, explica o poeta, tem duas vertentes: apocalíptica e encantadora. A destruição do Cerrado para dar lugar a atividades econômicas é tema recorrente dos poemas: "inodoros corredores / (nada ecológicos) / gabinetes insípidos / homens incolores / e suas leis brancas / cerrado / caso / encerrado / encerado".
Para Behr, o Cerrado é visto como "bioma de segunda classe, só chão para ser plantado" pelos brasileiros. Para ele, parte disso é causado pela aparência tortuosa das árvores nativas e porque "as pessoas não se identificam com o Cerrado". Mesmo assim, mantém a esperança que o bioma passe a ser visto com outros olhos. "Que o brasileiro acorde para a beleza e importância do Cerrado. Sem o Cerrado não tem luz elétrica, porque as grandes hidrelétricas são abastecidas no Cerrado. Tenho esperança que o brasileiro mude a visão do Cerrado como feio e raquítico", finaliza.
*Estagiária sob a supervisão
de Severino Francisco
Lançamento de EnCerrado
De Nicolas Behr. Sábado
(23/8), de 9h à 17h, no viveiro
Pau-Brasília (Polo Verde, saída norte, entre a ponte do Bragueto
e o balão do Torto)