
A cantora e compositora Liniker, vencedora do Grammy Latino e um dos nomes mais importantes da música brasileira contemporânea, voltou a chamar atenção para uma questão urgente: o racismo estrutural dentro da indústria musical.
De acordo com o colunista Marcondes Augusto do portal Papelpop, em entrevista ao podcast Segue o Som, apresentado pelo jornalista Pietro Reis, a artista refletiu sobre a cena pop nacional e questionou os critérios de quem é ou não reconhecido como parte desse gênero.
Segundo Liniker, há uma barreira racial clara quando se fala em pop no Brasil. “Todo mundo que faz pop enquanto pessoa preta é sempre colocado em subgêneros — afropop ou qualquer outra nomenclatura que as pessoas escolhem para velar o racismo delas”, afirmou. A cantora destacou que, na prática, o mercado ainda insiste em restringir o pop a determinados estereótipos de artistas, normalmente brancos, loiros e com grande visibilidade nas redes sociais.
O impacto da fala de Liniker
Ao expor esse cenário, Liniker aponta para um problema histórico da cultura brasileira: a dificuldade em reconhecer artistas negros como protagonistas em gêneros considerados mainstream. Para ela, o conceito de pop deveria estar ligado ao alcance e à capacidade de transmitir afeto ao público, e não a padrões eurocêntricos.
“Acho que pop, para mim, é popularizar o afeto e tentar sair desse lugar onde só artista branca, de cabelo loiro e milhões de seguidores é lida como artista pop no Brasil. Mas a travesti preta também é”, disse, reforçando sua própria vivência como mulher trans e negra dentro do mercado fonográfico.
A fala da cantora ecoa além da música. Ela também traz à tona um debate sobre representatividade, inclusão e justiça social, que vem ganhando força em diferentes segmentos da arte e da cultura. Para muitos fãs, Liniker não só denuncia, mas também inspira uma mudança de mentalidade, usando sua visibilidade para questionar normas que ainda marginalizam corpos negros e dissidentes.
Além disso, ao trazer essa discussão, Liniker reforça a necessidade de abrir espaço para novas vozes e talentos que já produzem música pop de qualidade, mas que não recebem o mesmo reconhecimento da indústria. O questionamento é direto: por que apenas alguns são considerados pop enquanto outros, por causa da cor da pele ou da identidade, são empurrados para rótulos secundários?
O posicionamento da cantora evidencia como a luta contra o racismo no mercado musical brasileiro ainda tem um longo caminho a percorrer. Mas também mostra a força transformadora da arte, que pode ser usada não apenas para entreter, mas para confrontar desigualdades e propor um futuro mais inclusivo.
Com coragem e autenticidade, Liniker segue ampliando a voz de uma geração que exige respeito, diversidade e reconhecimento dentro e fora dos palcos.