
O agente secreto, filme representante do Brasil no Oscar de 2026 teve um trecho gravado em Brasília. Kleber Mendonça Filho, diretor do longa, divulgou a informação em uma rede social em comemoração ao Festival de Cinema em Brasília, que aconteceu no último fim de semana (13/9) e (14/9).
"Em dezembro do ano passado, filmamos em Brasília um pouco de 'O Agente Secreto'. Obrigado Brasília, hoje devolvemos a acolhida com o filme pronto", disse o diretor na publicação, comemorando a participação no 58º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
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A cena se passa em um momento dentro do filme em que o personagem de Wagner Moura, Marcelo, faz uma ligação em um orelhão, enquanto tenta burlar o sistema de repressão da ditadura militar.
Testemunha de cena
Hermes Romão, arquiteto que tem um escritório no edifício Morro Vermelho, prédio que aparece no trecho no longa, viu a pré-produção, mas não sabia do que se tratava. Apenas após a publicação do diretor falando sobre gravção da cena, ele teve noção do que tinha presenciado. "Na época da gravação, a gente [ele e a equipe do escritório] estávamos se mudando para o prédio. Fomos em um fim de semana e estava uma comoção. Com muita gente no térreo, pessoas com roupa de época (anos 1970 e 1980) e o porteiro me informou que estavam gravando um filme", disse.
Além desses detalhes, Romão conta que ficou observando os trabalhos. Segundo ele, tinha profissionais almoçando, maquiagens sendo feitas, a equipe técnica se preparando para a hora da ação. Também tinham carros da década estacionados próximos aos prédios da região. E agora, descobriu que ele presenciou a gravação de um filme que pode ser o representante do Brasil no Oscar de 2026. "Só agora descobri que Wagner Moura estaria ali. Perdi essa oportunidade", disse.
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Brasília em O Agente Secreto
A quadra em que a cena foi filmada carrega consigo uma história significativa para a arquitetura de Brasília. A filmagem aconteceu no Setor Comercial Sul, nas proximidades dos edifícios históricos Morro Vermelho e Camargo Correa outros marcos da arquitetura local.
Segundo Hermes, os edifícios foram projetados por João Filgueiras Lima, o Lelé, um dos ícones da arquitetura brasiliense. “O prédio Morro Vermelho fez 50 anos no ano passado e ainda está muito bem conservado”, comenta.
"São dois grandes projetos do Lelé, muito importantes para Brasília. É uma arquitetura mais seca, feita com elementos pré-moldados, que eram fabricados em outro local e montados aqui, como um grande quebra-cabeça. Parte do edifício veio praticamente pronta de fábrica."
Em 2022, o prédio recebeu o Selo de Arquitetura do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal, como reconhecimento por sua qualidade arquitetônica e estado de preservação.
Ele também ressalta a importância do espaço urbano ao redor, que favorece o uso público e coletivo:
"Essa expressão espacial é fundamental. A praça entre os edifícios cria uma relação direta com as pessoas. É um espaço de encontros, de trocas, de cultura."
"Meu escritório fica no primeiro andar, então tenho acesso direto à movimentação da praça entre os edifícios. Todos os dias acontece algo ali — música, conversas, manifestações culturais. É um espaço vivo, que dá alma à cidade", relata.
Diálogo entre cinema e arquitetura
Para Hermes Romão, o diálogo entre arquitetura e cinema é natural e enriquecedor: "Arquitetura e cinema sempre andaram juntos. A gente viu isso em O Brutalista. Quando se retrata a cidade no cinema, é possível transmitir mais informações, encantar o público e fazer com que as pessoas entendam por que certos espaços são tão queridos e importantes."
O arquiteto compartilha que se alegrou ao saber da repercussão do filme e da presença de Wagner Moura no local. "Nossa, eu fiquei muito feliz. Eu amo Brasília, nasci e cresci aqui, então Brasília é uma cidade muito importante pra mim. Saber que esse filme, de tanto impacto nacional, foi gravado aqui foi uma grande alegria. E agora fiquei sabendo que o Wagner Moura estava ali", disse, demonstrando orgulho e emoção ao ver a cidade em destaque.
Sinopse, equipe e ambientação
O Agente Secreto se passa em 1977, na ditadura militar brasileira, e acompanha Marcelo (Wagner Moura), professor especializado em tecnologia, que tenta deixar São Paulo para recomeçar a vida em Recife. Lá, ele acredita encontrar um refúgio — mas seu passado e forças políticas da época o alcançam, transformando a busca por tranquilidade em uma trama de espionagem, vigilância e tensão.
Além de Moura, completam o elenco nomes como Gabriel Leone, Maria Fernanda Cândido e Alice Carvalho. A direção é de Kleber Mendonça Filho, já reconhecido internacionalmente por trabalhos como Bacurau e Aquarius.
O longa estreou em Cannes 2025, onde teve boa recepção: Wagner Moura levou o prêmio de Melhor Ator, enquanto Kleber Mendonça Filho foi laureado como Melhor Diretor. Também conquistou prêmios da crítica e do júri em Lima.
A distribuição internacional já está garantida pela Neon (Estados Unidos e Canadá) e MUBI (Europa, Índia, América Latina fora do Brasil), enquanto no Brasil o filme tem estreia marcada para 6 de novembro de 2025, com distribuição da Vitrine Filmes.