
A escola de samba do Grupo Especial do Rio Janeiro Unidos da Tijuca escolheu, na madrugada desse domingo (14/9), seu samba-enredo para o Carnaval 2026. A composição vencedora servirá de trilha sonora para o enredo "Carolina Maria de Jesus" (1914-1977).
A escritora, memorialista, compositora e multiartista mineira de Sacramento, no Triângulo Mineiro, é autora do best-seller "Quarto de despejo - diário de uma favelada" (1960). A obra vendeu cerca de 3 milhões de livros e ganhou versões para 16 idiomas.
Carolina Maria de Jesus, que nasceu em 14 de março e faleceu em 13 de fevereiro de 1977, em São Paulo, foi neta de escravos e filha de mãe analfabeta.
A composição vencedora (confira a letra na íntegra ao fim da matéria) da escola de samba carioca foi uma parceria entre Lico Monteiro, Samir Trindade, Leandro Thomaz, Marcelo Adnet, Marcelo Lepiane, Telmo Augusto, Gigi da Estiva e Juca.
O anúncio da homenagem foi divulgado em 2 de junho deste ano, e o enredo estava sendo desenvolvido pelo carnavalesco Edson Pereira.
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Na madrugada de domingo, a Unidos da Tijuca, também anunciou, durante evento na quadra do Clube dos Portuários (casa da escola de samba por mais de 30 anos), a coroação da nova rainha de bateria, a influenciadora Mileide Mihaile.
A agremiação, que tentará seu quinto título, fechará a segunda-feira de desfiles do Grupo Especial do Carnaval do Rio.
Confira a letra do samba-enredo 2026 da Unidos da Tijuca:
Eu sou filha de uma dor
Que nasceu no interior de uma saudade
Neta de vô preto velho
Que me ensinou os mistérios
Bitita, cor que sonhou liberdade
Me chamo Carolina de Jesus
Dele herdei também a cruz
Olhem em mim, eu tenho as marcas
Me impuseram sobreviver
Por ser livre nas palavras
Condenaram meu saber
Fui a caneta que não reproduziu
A sina da mulher preta no Brasil
Os olhos da fome eram os meus
Justiça dos homens não é maior que a de Deus!
Meu quarto foi despejo de agonia
A palavra é arma contra a tirania!
Sonhei sobre as páginas da vida
Ilusões tolhidas por um sistema algoz
Que tenta apagar nossa grandeza
Calar a realeza que ainda vive em nós
Meu barraco é de madeira
Barracões são do Borel
Onde nascem Carolinas
Não seremos mais os réus
Por tantas Marias
Que viram seus filhos crucificados
Nas linhas da vida, verbo na ferida, deixei meu legado…
Meu país nasceu com nome de mulher
Sou a liberdade… Mãe do Canindé!
Muda essa história, Tijuca
Tira do meu verso a força pra vencer!
Reconhece o seu lugar… e luta
Esse é o nosso jeito de escrever!