Mercado de trabalho

Atos pelo #FimdaEscala6x1 tomam as ruas de dezenas de cidades pelo Brasil

Pelo menos 15 capitais brasileiras registram protestos a favor da redução da jornada de trabalho no feriado da Proclamação da República. PEC já alcançou 250 assinaturas e pode tramitar no Congresso Nacional

Na capital paulista, centenas de trabalhadores se reuniram para demostrar apoio ao projeto que reduz a jornada máxima de trabalho de 44 para 36 horas semanais -  (crédito: Letycia Bond/Agência Brasil)
Na capital paulista, centenas de trabalhadores se reuniram para demostrar apoio ao projeto que reduz a jornada máxima de trabalho de 44 para 36 horas semanais - (crédito: Letycia Bond/Agência Brasil)

Manifestantes de ao menos 15 capitais brasileiras foram às ruas no feriado da Proclamação da República em atos pelo fim da jornada de trabalho de seis dias de trabalho e um dia de folga. Mesmo debaixo de chuva, trabalhadores, sindicalistas e movimentos sociais se reuniram na Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília, no movimento organizado pelo Vida Além do Trabalho (VAT).

O tema ganhou repercussão nesta semana nas redes sociais, com a proposta de emenda à Constituição (PEC) que reduz a jornada máxima de trabalho de 44 para 36 horas semanais, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSol-SP).

Um dos organizadores do movimento na capital federal, o deputado distrital Fábio Félix (Psol-DF) revelou que há muito tempo não via "uma janela de oportunidade tão importante para a discussão da jornada de trabalho no país". "Uma janela em que a classe trabalhadora coloca todos os setores da burguesia nacional, da elite política e econômica na defensiva", acrescentou, dando créditos às mobilizações que passaram a ocupar as ruas.

Ele destacou a importância de "dialogar sobre jornada de trabalho, direito à vida, dignidade, saúde mental, lazer, cultura, educação". Para o parlamentar, "a direita não consegue fazer um contraponto" à proposta.

Assistente social e candidata à deputada federal pelo Psol em 2022, Dani Sanchez falou aos manifestantes sobre sua realidade: "Você tem um domingo no mês em que você tem que decidir se vai lavar a roupa ou se vai no almoço de família. Se você vai cuidar do seu filho e ir ao parque brincar ou se você vai tentar organizar a vida porque na segunda-feira tudo começa de novo".

A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) também participou dos protestos por melhores condições de trabalho. Para ela, "é fundamental que o povo brasileiro tenha vida além do trabalho". Debaixo de chuva, ela clamou que acabar com a escala 6x1 "é lutar para que o nosso tempo, as nossas vidas e os nossos corpos não sejam entregues em sacrifício ao lucro do próprio patrão".

Segundo o entregador de aplicativo, Abel Santos, o movimento está organizando uma "agenda de pequenos atos", que serão realizados em shoppings em Brasília e no aeroporto, acompanhando a chegada e saída de parlamentares. Ele confirmou que haverá um outro grande ato até o fim do ano, na véspera das datas comemorativas, quando os centros comerciais estarão cheios, onde os trabalhadores cumprem escalas 6x1.

São Paulo

Na capital paulista, a autora da PEC anunciou que o projeto passou de 60 para 250 em apenas uma semana devido à crescente pressão social. Para ser protocolado, o texto precisava da assinatura de 171 deputados para que pudesse tramitar no Congresso. "Não há República, não há país, e não há economia sem a classe trabalhadora", brandou Erika Hilton, no ato concentrado na Avenida Paulista, que reuniu centenas de pessoas.

"Chega dessa escala exploratória, sanguinária", disse a parlamentar, ao assegurar que lutará arduamente para aprovar o projeto no Congresso, atendendo a "toda preocupação que seja válida", e "combatendo as mentiras de quem ainda não superou o fim da escravidão".

Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, o vereador pelo Psol Rick Azevedo, fundador do VAT, comemorou seu aniversário e a conquista da classe trabalhadora, "que mantém esse país". Ele contou que trabalhou por 12 anos dentro dessa escala: "O que eu mais sonhei na minha vida foi o dia em que houve um protesto para acabar com esse modelo de trabalho. E eu nunca imaginei, nem nos meus melhores sonhos, que esse movimento seria iniciado por mim".

O Vida Além do Trabalho foi criado em setembro de 2023, após Rick Azevedo publicar em sua conta no TikTok um vídeo sobre sua revolta com a escala 6x1. Inconformado, ele postou: "Até quando essa escravidão?". A mensagem de indignação foi gravada no seu último dia de férias e viralizou.

Ontem, ao relembrar sua história, ele reforçou os argumentos do vídeo originário do movimento: "A escala de trabalho 6x1 é uma escala escravocrata, desumana, exploratória, que acaba com a vida dos trabalhadores, em especial a das mães. Como é que uma mãe é mãe com apenas um dia de folga?", indagou.

Belo Horizonte, Curitiba, Manaus, Fortaleza e Belém, também registraram atos e mobilizações foram vistas em outras 15 cidades do interior. Os manifestantes argumentam que o modelo trabalhista vigente, de 44 horas semanais, é apontado como uma das causas principais de afastamento do trabalho por exaustão física e mental, por dificultar a prática de atividades físicas, o lazer, o estudo e o convívio dos trabalhadores com a família e amigos.

Há outras duas PECs em tramitação no Congresso Nacional que pedem pela redução de jornada, como a PEC 221 de 2019 do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), mas sem determinar o fim da jornada 6 por 1, principal demanda do VAT.

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postado em 16/11/2024 03:50 / atualizado em 16/11/2024 15:16
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