O papa de todas as fés

Associativismo: uma alternativa à financeirização

Um dos princípios da economia de Francisco se compromete com "uma economia na qual a finança é amiga e aliada da economia real e do trabalho e não contra elas"

No Armazém do Campo, do MST: exemplo de associativismo  -  (crédito: Divulgação/MST)
No Armazém do Campo, do MST: exemplo de associativismo - (crédito: Divulgação/MST)

Francisco responsabiliza a financeirização pelo agravamento tanto dos problemas climáticos quanto sociais. E aponta a falência desse modelo. "Em alguns círculos, defende-se que a economia atual e a tecnologia resolverão todos os problemas ambientais, do mesmo modo que se afirma, com linguagens não acadêmicas, que os problemas da fome e da miséria no mundo serão resolvidos simplesmente com o crescimento do mercado", diz um trecho do documento, que completa: Aqueles que não o afirmam em palavras, defendem-no com os fatos, quando parece não preocupar-se com o justo nível da produção, uma melhor distribuição da riqueza, um cuidado responsável do meio ambiente ou os direitos das gerações futuras. Com os seus comportamentos, afirmam que é suficiente o objetivo da maximização dos ganhos. Mas o mercado, por si mesmo, não garante o desenvolvimento humano integral nem a inclusão social."

Segundo o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor na Unicamp, a raiz da crise apontada no papa está na abertura dos mercados a partir dos anos 1980. "O que ocorre hoje é consequência desregulamentação econômica. Se você deixar o bicho solto, ele vai realizar a sua essência, a sua natureza. Essa é a natureza do financeiro", observa.

O jornalista econômico Luiz Nassif, do Jornal GGN, também um crítico do modelo financista, diz que a proposta pelo papa poderia ser aplicada no Brasil, considerando o perfil do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, amigo de Francisco. Mas analisa que falta coragem, no governo, de se desvencilhar da pressão colocada pelo próprio mercado.

"Crescimento da economia é criação de novas empresas, é aumento da capacidade produtiva, é aumento de emprego", opina Nassif, em referência à importância de políticas que incentivem a economia real. "O que prevalece hoje, no sistema, é o modelo financista de desenvolvimento, que estimula as grandes empresas a concentrarem cada vez mais poder e riqueza, sufocando as pequenas. É um modelo voltado para os dividendos", completa.

Nassif entende que, ao contrário disso, o modelo a ser seguido é aquele proposto por Francisco, que parte da organização dos pequenos. "Há várias experiências bem-sucedidas", diz, citando o associativismo.

"Existem, por exemplo, os Arranjos Produtivos Locais, tivemos as centrais de compra, que são experiências dos anos 1990. Nosso sistema cooperativo é fantástico. Atualmente, temos experiências muito bem-sucedidas nos movimentos sociais, como o MST".

Princípios da Economia de Francisco

»Uma economia de paz e não de guerra;

» Uma economia que contraste a proliferação das armas, especialmente as mais destrutivas;» Uma economia que se preocupa com a criação e não a saqueia;

» Uma economia a serviço da pessoa, da família e da vida, respeitosa de toda mulher, homem, criança, idoso e especialmente dos mais frágeis e vulneráveis;

» Uma economia em que o cuidado substitui o descarte e a indiferença;

» Uma economia que não deixa ninguém para trás, para construir uma sociedade na qual as pedras descartadas pela mentalidade dominante se tornem pedras angulares;

» Uma economia que reconhece eprotege o trabalho digno e seguropara todos, especialmente para asmulheres,

» Uma economia na qual a finança é amiga e aliada da economia real e do trabalho e não contra elas;

» Uma economia que sabe valorizar e preservar as culturas e as tradições dos povos, todas as espécies vivas e os recursos naturais da Terra;

» Uma economia que combate a miséria em todas as suas formas, reduz as desigualdades e sabe dizer, com Jesus e com Francisco, “bem-aventurados os pobres”;

» Uma economia guiada pela ética da pessoa e aberta à transcendência;

» Uma economia que cria riqueza para todos, que gera alegria e não apenas bem-estar, pois a felicidade não compartilhada é muito pouco.

Fonte: CNBB

Por Edla Lula
postado em 28/04/2025 04:32
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