
A Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil (Conafer), com sede em Brasília, pode ter adulterado documentos para retirar dinheiro de aposentados no caso das fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A informação foi dada pelo empresário Bruno Deitos, testemunha-chave nas investigações.
Em depoimento prestado no dia 10 de junho de 2021, na Delegacia de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, Bruno afirmou que a empresa dele, a Premier Recursos Humanos, foi "contratada de forma terceirizada pela empresa Target Pesquisas de Mercado, que havia sido contratada pela Conafer para fazer um serviço de atualização de cadastro de associados", disse em testemunho obtido com exclusividade pelo Jornal Nacional.
De acordo com Bruno, o contrato estabeleceria que a Premier atuaria no Distrito Federal, Goiás, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A partir de uma listagem dos associados em mãos, promotores de pesquisa recrutados pela empresa foram pessoalmente a endereços fornecidos pela Conafer para colher assinaturas dos associados em formulários de exclusão do desconto de mensalidade.
O arquivo digital obtido a partir deste trabalho incluiria 28,7 mil fichas com assinaturas. Em uma reunião, o dono da Target, segundo o relato de Bruno, teria dito que apenas o quadro de assinaturas o interessaria e que ele contrataria uma empresa especializada em alteração de documentos em PDF para mudar os formulários de exclusão para formulários de adesão.
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À polícia, Bruno contou que não recebeu o pagamento total pelo serviço e que ao reclamar, foi ameaçado pelo irmão do presidente da Conafer, Tiago Ferreira Lopes. Em outro depoimento, ainda em junho de 2021, o empresário afirmou que "o presidente da Conafer comentou em uma reunião que tinha domínio sobre os diretores do INSS".
A Conafer foi a que mais aumentou o número de descontos dos aposentados e pensionistas entre os anos de 2019 e 2024, passando de R$ 400 mil por ano, em 2019, para R$ 57 milhões em 2020, e, R$ 202 milhões em 2023, de acordo com dados da Controladoria-Geral da União (CGU).
Os documentos que comprovariam as denúncias de Bruno foram enviados pela Polícia Civil à Polícia Federal (PF) e foram anexados ao inquérito que investiga as fraudes.