
Fabricantes nacionais de medicamentos estão otimistas com o avanço do mercado, que vem sendo alavancado pelos genéricos -- que costumam ser, pelo menos, 35% mais baratos do que marcas tradicionais. Atualmente, as fábricas de capital doméstico respondem por quase 80% do mercado interno e planejam chegar a 90% até 2030, pelas projeções da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac). Há 25 anos, esse setor era dividido igualmente entre as empresas nacionais e as multinacionais, segundo a entidade.
Levantamento da Alanac revela ainda que o mercado total de medicamentos atingiu 5,7 bilhões de embalagens, em junho, expansão de 5,5% em relação ao registrado em junho de 2024. Os laboratórios de capital nacional responderam por 4,4 bilhões de unidades -- 77,9% do total. Nos últimos cinco anos, quando o volume era de 4,8 bilhões de embalagens, o crescimento do setor foi de 18,7%.
Os dados foram compilados pela entidade com base em indicadores da IQVIA e do Ministério da Saúde e serão divulgados, na tarde de hoje, na segunda edição do Seminário Desenvolvimento da Indústria Farmacêutica Nacional (Difan), que deve reunir lideranças do setor, autoridades e especialistas, na capital federal.
Em entrevista ao Correio, Henrique Tada, presidente da Alanac, ressaltou que essa projeção de expansão leva em consideração que, daqui a cinco anos, devem prescrever cerca de 1,5 patentes de princípios ativos de medicamentos, liberando a fabricação de genéricos. Segundo ele, o fechamento de fábricas de marcas internacionais no país também contribuiu para a expansão das fabricantes de capital nacional nos últimos anos.
Além dos elevados custos de produção e tributário no país, o executivo destacou que essas empresas decidiram investir em outros mercados, além de focar em produtos com custos mais elevados do que os genéricos. “Mas a indústria nacional continua investindo no país, acreditando no projeto, ampliando cada vez mais. Na questão de centros de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no Brasil, a última multinacional que tinha laboratório no país foi a Stiefel”, destacou ele, citando o laboratório norte-americano.
Investimentos represados
O governo federal, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e do programa Farmácia Popular, é o maior comprador de medicamentos desses fabricantes nacionais que atendem 74% das compras governamentais. O presidente da Alanac reconheceu também que os investimentos do setor poderiam ser maiores se houvesse mais celeridade na aprovação de patentes de medicamentos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que tem operado no último ano com quórum mínimo de dois diretores e um substituto.
“Existem R$ 20 bilhões a R$ 22 bilhões de investimentos em novos produtos da indústria farmacêutica nacional que estão na fila da Anvisa para análise para que possam ser lançados”, destacou Tada. Para ele, a aprovação dos nomes dos novos diretores da Anvisa, na semana passada, pelo Senado Federal deve contribuir para a retomada do fluxo da agência.
Na terça-feira passada (19/8), o plenário do Senado confirmou as três indicações do Executivo para a Diretoria Colegiada (Dicol) da Anvisa. Os nomes foram aprovados em sabatina na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), no dia 13. Entre eles, o novo diretor-presidente da instituição: o economista Leandro Pinheiro Safatle.
“Desde o ano passado, a Anvisa está funcionando com o quórum mínimo. E, agora, com a entrada dos novos diretores e a revisão de processos, podemos ter uma boa expectativa em relação ao andamento da fila”, destacou ele, citando uma parceria entre a Anvisa e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Firmado em novembro do ano passado, o acordo de cooperação técnica entre as duas entidades visa modernizar os sistemas de informação da agência reguladora e um dos efeitos efeitos esperados é o aumento da competitividade e da inovação no setor farmacêutico brasileiro, especialmente devido à adoção de padrões de informações já utilizados pelas principais agências reguladoras de medicamentos do mundo.
Conforme dados da Alanac, o setor farmacêutico, como um todo, registrou um faturamento de R$ 138,3 bilhões no primeiro semestre deste ano, dado 11,5% sobre os R$ 124 bilhões contabilizados no mesmo período de 2024. Esse desempenho, reflete uma combinação de fatores, 'incluindo o crescimento no volume de unidades e a atualização de preços dos medicamentos", segundo a instituição.
Para o acumulado deste ano, o presidente da Alanac, prevê expansão de 5% no faturamento do setor, “em unidades, um pouco mais”.
Os dados da associação revelam ainda que a expansão do faturamento do setor nos últimos cinco anos foi de 60%, passando de R$ 85,1 bilhões, nos primeiros seis meses de 2021, para R$ 138,3 bilhões, neste ano. Nesse período, os laboratórios de capital nacional passaram de R$ 50,8 bilhões para R$ 80,2 bilhões, o equivalente a 57,9% do mercado. Enquanto isso, os genéricos nacionais mais do que dobraram sua contribuição dessas receitas, subindo de R$ 11,1 bilhões, em 2021, para R$ 19,3 bilhões, neste ano.
“Esse resultado mostra que a indústria nacional não só cresce em volume, mas também em valores, comprovando sua competitividade tecnológica e a confiança dos brasileiros nos medicamentos aqui produzidos”, afirmou Tada. Segundo ele, olhando para a série histórica a indústria nacional está se consolidando. "Os laboratórios brasileiros sustentam a base de produção, garantem acesso a medicamentos essenciais e, ao mesmo tempo, investem em inovação e tecnologia para competir com as multinacionais”, disse.
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