Agronegócio

Evento do Correio debate os desafios da transição na agricultura; veja como se inscrever

O modo de produção de soja que faz o Brasil líder mundial, também causa graves problemas econômicos aos produtores

Segundo estudo, em 30 anos o custo de produção aumentou demais -  (crédito: Maria Eduarda Lavocat CB DA Press)
Segundo estudo, em 30 anos o custo de produção aumentou demais - (crédito: Maria Eduarda Lavocat CB DA Press)

Os problemas ambientais criados pelo modelo brasileiro de produção — como a expansão de área plantada e o uso agressivo de insumos químicos — já são bastante conhecidos. Estudo publicado pelo Instituto Escolhas mostra que, além disso, o modelo é ineficiente, gerando prejuízo tanto para o meio ambiente quanto economicamente.

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A pesquisa Brasil como líder mundial em produção de soja: até quando e a que custo? compara números relacionados à produção de soja em 1993 e em 2023, e comprova a elevação dos custos para o produtor do grão, como o aumento do uso de insumos químicos para produzir a mesma quantidade de sacas de soja e o crescimento desproporcional do preço entre o agrotóxico e fertilizantes para a soja.

Segundo o levantamento, em 2023, o agricultor produziu menos quantidades de sacas de soja (60kg) com a mesma quantidade de agrotóxico do produtor de 1993. Com 1kg dos químicos, em 1993, o agricultor produzia 23 sacas, já em 2023 a produtividade cai para apenas sete sacas. O mesmo vale para o uso de fertilizantes, com 1 tonelada, em 1993, o trabalhador fazia 517 sacas de soja, em 2023 o número foi reduzido para 333.

Para a produtora rural Marion Kompier, o Brasil não precisa expandir mais a área plantada de soja, basta utilizar as regiões de pastagem degradadas, que têm espaço suficiente para acolher a soja e aumentar os sistemas de irrigação para todo o Brasil. Isso seria o suficiente para aumentar a produção para abastecer o planeta.

"É como comparar com uma pessoa doente, que toma um remédio químico da farmácia, aquele remédio pode dar um efeito colateral, que a gente vai precisar tomar outro remédio para resolver aquele efeito colateral. Isso é uma bola de neve. A gente vai cada vez usando mais remédio", exemplifica.

"A margem (de lucro) do produtor está bem menor, porque precisamos usar cada vez mais produtos químicos e fertilizantes para tentar corrigir os desequilíbrios que nós mesmos causamos com este modelo de agricultura atual", completa.

O Brasil, segundo o levantamento, é líder mundial no uso de agrotóxicos e fertilizantes (fósforo e potássio), o país foi responsável por 22% do volume global de agrotóxicos na agricultura. Entretanto, mesmo com um grande volume de insumos químicos, o país também se destaca pela ineficiência do uso dos mesmos por hectares de terras cultivadas (todas as culturas), entre os cinco maiores produtores de soja do mundo - Argentina, Brasil, China, Estados Unidos e Índia -, sendo o pior entre os cinco no uso de agrotóxico por hectare e o segundo pior no uso de fertilizante por hectare.

Transgênicos

De acordo com a Croplife — representante das principais empresas produtoras de sementes de soja no mundo —, a adoção de sementes transgênicas na produção de soja no Brasil é quase absoluta, representando 93% do total em 2023. A adoção dessa tecnologia prometia promover a eficiência no controle de pragas em lavouras transgênicas e a redução do uso de agrotóxico, infelizmente a promessa não foi cumprida. O estudo mostra que o volume de agrotóxicos utilizados cresce acima do volume da produção de sementes e da produção da soja. A análise de 20 anos mostra um aumento de 660% no uso de agrotóxicos, 348% na produção de sementes, e, para produção de grãos, um aumento menor, de 256%.

Segundo Marion Kompier, as cultivares geneticamente modificadas são dependentes químicas. "Elas foram produzidas para responder com produtividade quando se aplicam muitos produtos químicos. Então hoje elas não são tolerantes às pragas e doenças, as dificuldades climáticas. Elas não são apropriadas para a gente reduzir a quantidade de produtos químicos que a gente gostaria", completa.

A soma da média dos gastos com esses três insumos por hectare/ano nos empreendimentos rurais avaliados pela Conab passou de 68% (R$ 1.630/ha/ano) do total das despesas de custeio (R$2.385/ha/ano) em 2013 para 87% (R$ 3.487/ha/ano) do total das despesas de custeio (R$ 4.015/ha/ano) em 2023.

Um fator econômico destacado pela pesquisa é a discrepância do aumento de preço entre os insumos usados na plantação e da soja em si. Como exemplo, a  evolução do preço do herbicida Glifosato 480 gramas, agrotóxico utilizado no cultivo da soja, cuja média nacional anual de preço do litro aumentou 99% entre 2013 e 2023, atingindo o valor (corrigido) de R$52,62 em 2023.Enquanto isso, nesse mesmo período, o preço da saca de 60kg de soja aumentou apenas 2%, atingindo o valor de R$153,40 em 2023.

O estudo revela uma série de problemas e dificuldades que os produtores brasileiros enfrentam devido o uso excessivo de insumos químicos, cujo preço é prejudicial para a economia do agricultor.

Para a agricultora, é preciso honrar e agradecer o modelo de produção que trouxe a agricultura do Brasil para o topo do mundo, mas chegou a hora em que é preciso olhar um novo modo de produção, uma agricultura regenerativa. “A gente precisa que a pesquisa trabalhe para mostrar como validar, como fazer, qual o caminho, se o que os produtores estão fazendo está certo ou está errado. Nós estamos aprendendo esse caminho, mas a gente sabe muito pouco ainda, mas o pouco que a gente sabe já faz uma diferença muito grande na nossa produção”, ressalta.

Kompier ainda ressalta que muitos produtores já buscam soluções, como por exemplo o Grupo Associado de Agricultura Sustentável (Gaas), eles já enxergam que este modelo atual é insustentável tanto para a natureza quanto para a economia e precisam encontrar um novo jeito de fazer agricultura. Para que mais agricultores adotem o modelo da agricultura regenerativa é preciso de mais pesquisas.

“Fica aqui um apelo para as instituições de pesquisa pesquisar esse novo modelo da agricultura regenerativa e trazer dados que vão ensinar, mostrar pro produtor como fazer.  Para as faculdades de agronomia, elas precisam também se abrir para esse caminho e ensinar aos novos produtores, aos alunos, que existe um outro modelo para fazer a agricultura, que não é só o modelo com adubos sintéticos e produtos químicos, que existe esse modelo da agricultura regenerativa.”, completa.

A soja e os desafios da transição da agricultura brasileira

Correio promoverá, em seu auditório, em parceria com o Instituto Escolhas, o evento A soja e os desafios da transição da agricultura brasileira, na próxima terça-feira (2/9), a partir das 8h30, para debater os caminhos possíveis para um modelo que respeite o solo, o produtor e o planeta – sem abrir mão da produtividade. Para se inscrever e participar presencialmente, basta acessar o site eventos.correiobraziliense.com.br/institutoescolhas-soja.

*Estagiário sob a supervisão de Edla Lula

 

 


CY
postado em 26/08/2025 04:29 / atualizado em 26/08/2025 10:53
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