
Apesar de ter registrado redução da desigualdade nos últimos anos, o Brasil ainda continua sendo um país com muitas disparidades socioeconômicas espalhadas pelo território nacional. Conforme os resultados preliminares do Censo Demográfico 2022: Trabalho e Rendimento e Deslocamento para trabalho e para estudo, divulgado, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a desigualdade de renda e de oportunidades persiste, e ela é maior no Distrito Federal.
O levantamento indica que a renda mensal domiciliar per capita – que equivale ao valor de todas as fontes de renda da família dividida pelo número de integrantes — foi de R$ 1.638 no Brasil no ano de 2022. O Maranhão foi a Unidade da Federação (UF) com a menor renda per capita em 2022, de apenas R$ 900, enquanto isso, o Distrito Federal teve o maior resultado, de R$ 2.999.
Os moradores do município de Nova Lima, em Minas Gerais, recebiam a maior renda média do trabalho em todo o país, R$ 6.929 mensais, em valores nominais, ou seja, sem correção pela inflação, conforme os dados do IBGE.
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No ranking dos 10 municípios com maiores rendimentos figuraram apenas cidades das regiões Sudeste e Sul, como São Caetano do Sul (SP), com renda média de R$ 6.167,Santana de Parnaíba (SP), R$ 6.081; Petrolândia (SC), R$ 5 989; e Vespasiano Corrêa (RS).
Os dados do relatório indicam ainda, que sete em cada 10 trabalhadores brasileiros recebiam, no máximo, dois salários mínimos em 2022. Se somados todos os integrantes da base com menores rendimentos, 68% dos brasileiros que trabalhavam em 2022 recebiam, no máximo, entre nada e até dois salários mínimos mensais. Enquanto isso, uma pequena fatia de apenas 0,7% dos trabalhadores brasileiros recebiam uma renda mensal que superava 20 salários mínimos.
Em 2022, 11,2% dos trabalhadores trabalhavam por uma remuneração que chegava, no máximo, a R$ 606 mensais, a metade do salário mínimo da época, de R$ 1.212 por mês. Mais de um terço (35,3%) dos que trabalhavam tinham remuneração aquém ou até o salário mínimo vigente.
O estudo do IBGE também mostra a evolução do Índice de Gini, que mede a desigualdade de renda no país. O indicador tem uma escala de 0 a 1 e, quanto mais perto de 1 o resultado, maior é a concentração de riqueza. Em 2022, o Gini foi de 0,542 para o total do Brasil em 2022. O patamar mais alto da série, de 0,545, ocorreu em 2018.
O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Wellington Dias, celebrou os resultados do IBGE. “Um Brasil com mais igualdade. Esse é o compromisso do governo do presidente Lula, e isto está acontecendo desde o primeiro dia de mandato”, afirmou. Segundo ele, o Índice Gini, que caiu de 0,544, em 2021, para 0,506 em 2024. “Isso significa que as pessoas de baixa renda, os mais pobres, estão melhorando, mas também a classe média e toda a população brasileira”, acrescentou.
Mas as desigualdades regionais continuam sendo marcadas pelo indicador. No Norte, o Gini chegou a 0,545, e, no Nordeste, a 0,541, enquanto o Sul teve o menor resultado, de 0,476. Conforme os dados preliminares do Censo de 2022 do IBGE, o Distrito Federal registrou o maior Índice de Gini entre as Unidades da Federação, atingindo 0,584, ou seja, maior distância entre ricos e pobres do país. O valor, porém, representa uma queda em relação ao Censo 2010, quando registrou 0,637.
Mas esse resultado ainda coloca o DF à frente de estados como Rio de Janeiro, que ficou em segundo lugar com 0,574. Em contraste, as menores desigualdades foram observadas no Sul do país, com Santa Catarina (0,452) e Paraná (0,482) registrando os valores mais baixos do indicador. Historicamente, o DF já apresentava índices elevados de concentração de renda domiciliar per capita — em 1991, o Gini era de 0,6203; em 2000, subiu para 0,6406; e em 2010, estava em 0,6370.
Concentração
Com isso, a distribuição da pobreza extrema também é regionalmente concentrada. Enquanto 13,3% da população brasileira tinha rendimento domiciliar per capita de até um quarto de salário mínimo, essa proporção era mais alta nas regiões Norte (23,3%) e Nordeste (22,4%) e significativamente menor no Sul (5,4%).
As desigualdades não são apenas regionais, mas também por raça. A renda per capita das populações branca (R$ 2.207) e amarela (R$3.520) equivalia, em 2022, a quase duas ou três vezes o montante obtido pelas populações preta (R$1.198) e parda (R$1 190), sendo o rendimento de indígenas ainda mais baixo, apenas R$ 669 por pessoa por mês.
Quase um terço da população (31,8%) sobrevivia com até meio salário mínimo em 2022, que naquele ano era de R$ 1.212 mensais. Uma fatia de 13,3% dos brasileiros tinham rendimento domiciliar per capita médio de até um quarto do salário mínimo, proporção que subia a 23,3% no Norte e 22,4% no Nordeste.
A diferença nos rendimentos também é acentuada no recorte municipal. Em 520 dos 5.571 municípios do país, o que representa 9,3% do total, o rendimento nominal médio mensal de todos os trabalhos era inferior a um salário mínimo (R$ 1.212, em valores de 2022). Enquanto isso, apenas 19 municípios apresentavam um rendimento superior a R$ 4.848 – mais de quatro salários mínimos naquela época.
Em relação ao gênero, o rendimento mensal médio dos homens (R$ 3.115) superou o das mulheres (R$ 2.506) em 24,3%. Essa diferença se manifesta em todos os níveis de instrução. A maior disparidade ocorre entre aqueles com nível superior completo — R$ 7.347 para os homens e R$ 4.591 para as mulheres.
Deslocamentos para o trabalho
Os dados preliminares do Censo de 2022, divulgados, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que a maior parte dos trabalhadores, 56,8%, demorava de seis minutos a meia-hora nos deslocamentos para o trabalho e ou para o estudo, totalizando 40 milhões de pessoas.
Contudo, 1,3 milhão de pessoas demoram mais de duas horas no deslocamento para o trabalho, o equivalente a 1,8% do total dos brasileiros. As que demoram mais de uma hora até duas horas somavam 10,5%. De acordo com o estudo, 76,612 milhões de pessoas trabalham no município de residência, sendo 19,15% dentro da própria casa, quando comparado com o Censo de 2010, houve um decréscimo de cinco pontos percentuais (21,9%).
As mulheres apresentaram a maior proporção nas faixas de tempo de até meia-hora, enquanto os homens se destacaram na faixa entre mais de meia-hora até uma hora, e na de mais de duas horas. O levantamento feito pelo IBGE destacou, também, que, pela diferença de cor ou raça, as pessoas pretas e pardas são maioria nos percursos de 16 ou mais minutos, 66,7% demoram mais do que 15 minutos para chegar ao trabalho. Em contrapartida, 39,78% das pessoas brancas não demoram mais do que 15 minutos para chegar ao trabalho.
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O Censo 2022 investigou, pela primeira vez, o meio de transporte utilizado no deslocamento para o trabalho. O automóvel foi o principal meio de locomoção, com 22.575,481 (32,32%). Em seguida o ônibus, com 14.915,744 (21,35%), a pé, com 12.434,197 (17,8%) e a motocicleta, com 11.433,807 (16,37%).
Ranking
Conforme o estudo, no Distrito Federal aparece em 12º lugar no ranking nacional de municípios com maior número de pessoas que gastam mais de duas horas em deslocamentos diários para o trabalho.
Ao todo, 1,3 milhão de pessoas residentes do DF trabalham no quadradinho. Desse total, 15,2% exercem suas atividades em casa e 84,8% trabalham fora. Além disso, 47,3% das pessoas que trabalham fora gastam de seis a trinta minutos no trajeto entre casa e trabalho, enquanto 32,0% levam mais de meia hora até uma hora.
As mulheres (16,7%) têm presença ligeiramente maior no trabalho em casa do que os homens (13,2%). Dos que levam mais de uma hora até duas horas para chegar ao trabalho, a maior parte são mulheres (50,9%). Em relação aos meios de transporte em Brasília, predomina o uso do carro, principal meio de locomoção para 46,3% da população ocupada que trabalha fora do domicílio — o segundo maior percentual do país, atrás apenas de Santa Catarina (48,0%). Em seguida, o ônibus aparece como o segundo modal mais usado, com 32,9%. Em números absolutos, são 523,9 mil pessoas que usam carro, 371,7 mil que utilizam ônibus, e 96,4 mil que vão a pé para o trabalho. (Com informações da Agência Estado)
*Estagiários sob a supervisão de Rosana Hessel
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Iago Mac Cord*
Estagiário RepórterEstudante de Jornalismo, estagiando na editoria de Política, Economia e Brasil. Busco me especializar em coberturas de conflito e trabalhar como correspondente internacional.