
New Jersey — Segunda-feira, 30 de junho. Horas depois da vitória por 2 x 0 contra a Internazionale e a classificação às quartas de final da Copa do Mundo de Clubes, a reportagem do Correio troca mensagens com o técnico do Fluminense sobre o êxito tático, em Charlotte. O treinador agradece, ao som de uma música no fundo em um raríssimo momento de happy hour, um relaxamento nos Estados Unidos saboreando o triunfo.
De origem latina, o nome dele, Renatus, significa "renascido", "nascido de novo". Indica renovação, recomeço e transformação. O treinador tricolor tem trocado a fama de boleiro pela de pensador na bela campanha no torneio e o Correio explica, a seguir, em oito tópicos, por que a trupe dele dominou o Borussia Dortmund na estreia, eliminou a Internazionale e está nas quartas de final contra o Al Hilal.
1. Revisão de conceitos
O Fluminense tem o 19º elenco mais caro da Copa. O plantel inscrito na competição é avaliado em 86,15 milhões de euros pelo site especializado Transfermarkt. Há seis anos, quando foi eliminado pelo Flamengo de Jorge Jesus da Libertadores por 6 x 1 no placar agregado, Renato Gaúcho justificou o vexame argumentando que o adversário havia investido R$ 200 milhões em contratações. Ele assumiu o time rubro-negro em 2021 e não ganhou nada. O tricolor é o mais barato entre os remanescentes.
2. Mudança de discurso
Depois de passar um tempo reclamando da falta de investimento nas passagens pelo Grêmio, Renato surpreendeu ao dominar o Borussia Dortmund. "Nem sempre é investimento. Tem muitos clubes que financeiramente são muito superiores, mas no campo são 11 contra 11. E aí, depende muito da atitude dos teus jogadores, e a atitude dos meus jogadores me encheu de orgulho. Não adianta muitas vezes você ter um time muito caro e achar que você vai ganhar no grito, vai ganhar na camisa, vai ganhar em contratações caras."
3. Upgrade tático
Criticado por aparentemente dar de ombros para as atualizações profissionais, Renato Gaúcho tem surpreendido na Copa ao usar variações táticas e travar dois gigantes europeus. Contra o Borussia Dortmund, usou o 4-3-3 abrindo mão do maestro Paulo Henrique Ganso e do centroavante German Cano na maior parte do jogo. Contra o Ulsan e o Mamelodi Sundowns, adotou o 4-2-3-1. Diante da Internazionale, tirou da cartola na última hora o sistema 3-4-1-2, com Thiago Silva no papel de líbero da defesa ao lado de Ignácio e de Freytes mutável para o 5-4-1.
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4. Maturidade
Uma das provas da atualização de Renato Gaúcho é entender a exigência da Copa por atletas e cobrar menos talento. A intensidade das partidas, principalmente diante dos europeus, cobra caro, com pulmão para suportar a rotação insana das partidas. Ele entendeu isso ao conseguir domar o gênio de Paulo Henrique Ganso. O camisa 10 não entrou em campo nas partidas mais duras do Fluminense contra o Borussia Dortmund e a Internazionale. O contrário do que fez Filipe Luís com Arrascaeta na derrota para o Bayern de Munique.
5. Poder ao craque
Nos tempos de atacante, Renato começou como ponta direita, mas cada vez mais foi se impondo demandando liberdade. Daí a compreensão de que o colombiano John Arias precisa jogar liso, leve e solto. Daí o meia tricolor ser o melhor jogador da Copa do Mundo de Clubes da Fifa até o momento. É definitivamente quem desequilibra. Fez um golaço de falta e deu assistência contra o Ulsan na fase de grupos. Foi dele o cruzamento para o gol de Cano na abertura do placar contra a Inter nas oitavas.
6. Humildade
Chamou a atenção o fato de Renato Gaúcho ter escutado o capitão Thiago Silva na pausa para a hidratação no segundo tempo da vitória contra a Inter. À beira do campo, o beque recomendou mudança no posicionamento de Arias. Everaldo saiu da função de centroavante para assumir o papel de marcador no lugar do astro da companhia. Em contrapartida, o colombiano virou falso nove no 5-4-1 enquanto o restante do time suportava a pressão insana do time italiano. Thiago Silva havia notado dentro das quatro linhas a exaustão de Arias para jogar e marcar.
7. Carregadores de piano
Impressionante o poder de convencimento de Renato no trato com os volantes. Bernal, Nonato, Lima, Hércules e, principalmente, Martinelli, são os responsáveis pela campanha do Flu na Copa. Além de protegerem a zaga e dominarem o meio de campo nas duas partidas mais difíceis, eles mostram capacidade de articulação para alimentar os atacantes e até mesmo balançar a rede. Nonato marcou contar o Ulsan. Martinelli rouba a bola e rola para Arias na construção do primeiro gol contra a Inter. Hércules carimba a classificação.
8. Foco
Famoso por bordões como "vou passear no Brasileiro", indicando desleixo em alguns momentos, Renato Gaúcho incorporou nos EUA o mantra "aqui é trabalho", de Muricy Ramalho, e tem se dedicado a estudar os adversários, a ponto de dar um W.O. na filha Carol em um dia de folga entre o fim da fase de grupos e o início das oitavas. "Ela passou lá no hotel para que eu pudesse ir com ela jantar, eu falei que não. Ela até me xingou porque queria sair, eu falei: "Não, eu vou ver o jogo do nosso futuro adversário, provavelmente a Inter, e eu estudei bem."