Estados Unidos

Ativista conservador aliado de Donald Trump é assassinado

Ataque a tiros mata Charlie Kirk, um dos nomes mais influentes da direita norte-americana, durante evento em universidade de Utah. Testemunhas falam ao Correio. Presidente qualifica o conservador de "grande" e "lendário"

Charlie Kirk (D) conversa com Trump durante festa da vitória do presidente, na cidade de Phoenix (Arizona), em dezembro  -  (crédito: Josh Edelson/AFP)
Charlie Kirk (D) conversa com Trump durante festa da vitória do presidente, na cidade de Phoenix (Arizona), em dezembro - (crédito: Josh Edelson/AFP)

Liam Bartholomew, 17 anos, tentava entrar na fila para fazer uma pergunta ao ativista conservador Charlie Kirk, 31. Cofundador do movimento Turning Point USA ("Ponto de Virada EUA", pela tradução literal), o influencer aliado de Donald Trump participava de um evento na Utah Valley University, em Orem, a 64km de Salt Lake City, capital do estado de Utah. "Assim que encontrei a fila de perguntas, eu estava no fundo da plateia quando escutei o tiro. Algumas pessoas começaram a gritar e todos começaram a correr para o prédio atrás de mim", contou ao Correio."Eu me escondi atrás de uma pilastra e tentei entrar em contato com os meus pais."

Por volta de meio-dia no horário local (15h em Brasília), uma bala tinha acabado de atingir o lado esquerdo do pescoço de Kirk, que sofreu intensa hemorragia e tombou para o lado. Depois de ser levado às pressas para o hospital, não resistiu aos ferimentos. No momento do atentado, Adam Bartholomew, pai de Liam, estava em uma espécie de varanda do corredor externo da universidade. "Eu entrevistava manifestantes contrários a Charlie Kirk. Quando escutei o tiro, minha primeira reação foi me certificar de que meu filho estava bem. Ele estava lá embaixo, tentando falar com Charlie. Minha segunda reação foi pensar que poderiam ser fogos de artifício. Foi então que o caos se instalou", relatou à reportagem. A morte do influenciador foi confirmada por Trump, cerca de uma hora e meia depois.

Flagrante do momento em que Kirk é atingido no pescoço, no lado esquerdo
Flagrante do momento em que Kirk é atingido no pescoço, no lado esquerdo (foto: Reprodução)

Com forte hemorragia, ele tomba para o lado, antes de ser socorrido
Com forte hemorragia, tomba para trás, antes de ser socorrido por apoiadores (foto: Reprodução)

"O grande, e mesmo lendário, Charlie Kirk, está morto. Ninguém entendia ou conquistava o coração da juventude nos Estados Unidos melhor do que Charlie. Ele era amado e admirado por todos, especialmente por mim, e, agora, não está mais entre nós", escreveu o presidente em sua plataforma Truth Social. Pouco depois, ordenou que todas as bandeiras dos EUA em prédios públicos fiquem baixadas a meio-mastro até às 18h de domingo (14/9). No início da noite, Kash Patel, diretor do FBI (a polícia federal americana), anunciou a prisão de um suspeito.

Por meio de um comunicado, a Utah Valley University informou que os disparos foram feitos a partir de um prédio situado a cerca de 180m de onde Kirk estava. Jason Chaffetz, ex-congressista de Utah, acompanhava o ativista conservador no comício e relatou que o atentado ocorreu durante uma sessão de perguntas e respostas. "A primeira pergunta foi sobre religião. Ele falou por cerca de 15 a 20 minutos. A segunda pergunta, curiosamente, foi sobre atiradores transgêneros, atiradores em massa, e no meio disso, ouviu-se o disparo", explicou um transtornado Chaffetz.

Imagem de vídeo mostra o influenciador sendo carregado para o carro, depois de ser baleado
Imagem de vídeo mostra influenciador sendo carregado em direção ao carro (foto: Jeremy King/AFP)

Historiador político e professor da American University (em Washington), Allan Lichtman afirmou ao Correio que Charlie Kirk era muito importante para a direita dos Estados Unidos. "Ele atraía o público mais jovem, com o qual os republicanos têm tido grande dificuldade em mobilizar. Mesmo com Kirk, o apoio do partido entre os jovens, nos últimos anos, está completamente destruído. Mais uma vez, a direita dirá que este não é o momento para falar sobre controle de armas. Eles têm usado essa desculpa há mais de 25 anos, desde o massacre de Columbine, em 1999. Enquanto isso, os corpos se acumulam", lamentou o estudioso.

De acordo com Lichtman, a polarização política é tão intensa nos EUA, que torna-se difícil imaginar uma piora. "Talvez aqueles políticos da direita despertem para a necessidade de se unirem, virtualmente, a cada nação democrática e adotarem mecanismos razoáveis de controle de armas. No entanto, não estou otimista."

Repercussão

A morte repercutiu entre figuras da direita. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que Kirk foi assassinado "por falar a verdade e defender a liberdade". "Amigo fervoroso de Israel, combateu as mentiras e defendeu a civilização judaico-cristã. (...) Perdemos um ser humano incrível", escreveu.

"Estou chocado. Apenas 31 anos... Charlie Kirk, jovem de bom coração, criativo e empreendedor, que dedicou sua vida a mobilizar a juventude conservadora, nos deixou de forma trágica. Mais um conservador vítima do ódio e da intolerância", reagiu o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.

PERSONAGEM DA NOTÍCIA 

Herói dos jovens conservadores

Charlie Kirk era visto como um porta-voz eloquente por uma jovem geração do movimento de extrema direita do presidente republicano Donald Trump. O homem de 31 anos contava com milhões de seguidores nas redes sociais, que se deleitavam com seus comentários e respostas provocativas aos detratores e àqueles que questionavam sua ideologia. 

A doutrina conservadora de Kirk estava muito alinhada com a de Trump: ele apoiou as falsas acusações de fraude do presidente americano quando perdeu as eleições de 2020 e usou sua grande influência para atacar imigrantes e pessoas transgênero. Em suas palestras em universidades americanas, convidava os estudantes a debater com ele em rápidos intercâmbios que frequentemente se tornavam virais na internet, especialmente aqueles com progressistas que se opunham às suas opiniões.

Em pouco mais de uma década, o Turning Point USA — um movimento juvenil que Kirk ajudou a fundar quando tinha apenas 18 anos — se tornou o maior grupo de jovens conservadores dos Estados Unidos. Hoje, o Turning Point está presente em mais de 850 campi de universidades dos EUA.

EU ACHO...

Alan Lichtman, cientista político da American University (em Washington)
Alan Lichtman, cientista político da American University (em Washington) (foto: Arquivo pessoal)

"A polarização é tão grande nos Estados Unidos, que é difícil imaginar que piore. Talvez aqueles políticos da esquerda despertem para a necessidade de se unirem, virtualmente, a cada nação democrática e adotarem mecanismos de controle de arma razoáveis. No entanto, não estou otimista quanto a isso."

Allan Lichtman, historiador político e professor da American University (em Washington)

  • Imagem de vídeo mostra influenciador sendo carregado em direção ao carro
    Imagem de vídeo mostra influenciador sendo carregado em direção ao carro Foto: Jeremy King/AFP
  • Flagrante do momento em que Kirk é atingido no pescoço, no lado esquerdo
    Flagrante do momento em que Kirk é atingido no pescoço, no lado esquerdo Foto: Reprodução
  • Com forte hemorragia, tomba para trás, antes de ser socorrido por apoiadores
    Com forte hemorragia, tomba para trás, antes de ser socorrido por apoiadores Foto: Reprodução
  • Alan Lichtman, cientista político da American University (em Washington)
    Alan Lichtman, cientista político da American University (em Washington) Foto: Arquivo pessoal
postado em 11/09/2025 05:50
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