
Depois de ordenar ataques a supostas embarcações do narcotráfico venezuelano, de confirmar que a Agência Central de Inteligência (CIA) recebeu sinal verde para "ações letais" dentro da Venezuela e de cogitar uma ofensiva terrestre contra cartéis, o presidente americano, Donald Trump, admitiu que o ditador Nicolás Maduro tenta evitar um confronto aberto com os EUA. "Ele ofereceu de tudo, é isso mesmo. Sabe por quê? Porque ele não quer mexer com os Estados Unidos", respondeu, ao ser indagado por um repórter sobre planos de Caracas para uma desescalada.
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Na quinta-feira (16/10), o jornal Miami Herald informou que Delcy Rodríguez, vice de Maduro, fez duas propostas à Casa Branca — a primeira incluía a exploração de recursos petrolíferos e minerais e a renúncia e a anistia ao presidente; a segunda estipula que o líder chavista deixaria o poder, buscaria exílio e seria substituído por um governo transitório chefiado pela própria Delcy. O The New York Times, por sua vez, publicou, na semana passada, que Maduro teria proposto a Trump abrir os projetos de petróleo e de ouro a empresas dos EUA. Além disso, o regime de Maduro teria prometido redirecionar as exportações de petróleo da China para os Estados Unidos e cancelar contratos de mineração e energia com Rússia, Irã e China.
Rodríguez desmentiu que teria negociado com a administração Trump e atacou o Miami Herald. "Outro veículo que se soma ao lixão da guerra psicológica contra o povo venezuelano", publicou no Telegram, com uma foto ao lado de Maduro e a legenda: "Juntos e unidos ao lado do presidente". Ontem, autoridades dos departamentos de Táchira e do Amazonas anunciaram patrulhas e procedimentos de controle em postos fronteiriços com a Colômbia. Em Táchira, os militares foram mobilizados na Ponte Internacional Simón Bolívar, que liga as cidades colombianas de Cúcuta e Villa del Rosario à venezuelana San Antonio.
Bombardeio
Durante reunião na Casa Branca, Trump anunciou o sétimo bombardeio no Mar do Sul do Caribe. "Atacamos um submarino que transportava drogas, construído especificamente para transportar grandes quantidades de drogas", afirmou. Presente na reunião, Rubio se equivou em admitir se houve sobreviventes na ofensiva — a sexta desde o início de setembro.
Para o filipino Salvador Santino Regilme, diretor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Leiden (Países Baixos), a declaração de Trump sobre Maduro ter oferecido "de tudo" funciona como uma "barganha coercitiva em público". "Ela sinaliza a determinação de Washington, aumenta os custos de reputação para Caracas e visa desestabilizar a coesão da elite venezuelana. Esse tipo de retórica pode abalar atores internos, mas também tende a endurecer os linha-dura, aumentando os riscos percebidos de saída, incluindo processos judiciais, perda de ativos e incerteza quanto ao exílio", explicou ao Correio.
Salvador vê como improvável a renúncia de Maduro a curto prazo, sem um pacote de transição confiável que proteja membros do regime e seja apoiado por atores nacionais e parceiros regionais. "Sem garantias confiáveis, essa barganha de Trump fortalece lealdades mais do que desencadeia renúncias."
Professora de ciência política da Universidade Estadual do Colorado, María Isabel Puerta vê uma estratégia da Casa Branca de tentar enfraquecer o regime chavista. "Se julgarmos pelas ações, pelo menos Maduro está consciente de que não tem capacidade para se defender de uma intervenção militar. A situação não apenas desestabiliza o regime de Maduro, mas toda a América Latina", disse ao Correio. "O que parece mais provável é que o governo Trump esteja testando diferentes cenários para desestabilizar a coalizão civil-militar que apoia Maduro."
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Transição negociada
"O que vemos, na crise entre EUA e Venezuela, é um conjunto de ferramentas de pressão familiar: sanções, isolamento diplomático, sinalização de segurança e reconhecida atividade secreta em torno de narcóticos e migração. Isso não prova um plano de deposição pré-escrito do regime de Nicolás Maduro. É melhor compreendido como um esforço para remodelar os incentivos dentro de Caracas para que os atores da elite considerem a deserção ou uma transição negociada.
Os fatores decisivos são divisões na cúpula, garantias pós-regime credíveis e cobertura diplomática regional que pode transformar a pressão em um processo político legítimo. Portanto, isso parece menos um golpe pré-escrito e mais uma modelagem de incentivos para uma transição negociada."
Salvador Santino Regilme, diretor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Leiden
(Países Baixos)
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