Futebol

As gestões de tentativa e erro no futebol

A Seleção, o Vasco e a maioria dos times do país são a síntese de um futebol brasileiro sem projeto esportivo. Todos dançam conforme a música

"Poucos, para não dizer nenhum clube brasileiro, têm um programa a curto, médio e longo prazo" - (crédito: Caio Gomez)

O Brasil iniciou o ciclo para a Copa de 2026 com Ramon Menezes, passou por Fernando Diniz, entregou a prancheta a Dorival Júnior e pode ir ao Mundial com o favorito Carlo Ancelotti, Abel Ferreira ou Jorge Jesus. Qual é a diferença entre a gestão caótica da CBF e o cavalo de pau do Vasco ao trocar Fábio Carille por Fernando Diniz? Nenhuma! A Seleção, o clube carioca e a maioria dos times do país são a síntese de um futebol nacional sem projeto esportivo. Dançam conforme a música.

Quando Pep Guardiola deixou o Barcelona em 2012, o clube catalão respeitou o projeto e o legado enquanto foi possível. Escolheu o discípulo Tito Vilanova como sucessor. Na sequência, apostou em Gerardo "Tata" Martino e em Luis Enrique. Havia lógica, alinhamento. As provas são os títulos da Champions League com Guardiola, em 2009 e em 2011; e com Luis Enrique, em 2015. Ambos forjados como técnicos na base do time catalão.

Poucos, para não dizer nenhum clube brasileiro, têm um programa a curto, médio e longo prazo. Nem o celebrado Palmeiras. Abel Ferreira está no cargo há quatro anos, seis meses e seis dias. Lindo, né? A contratação do português foi aleatória. A diretoria da época demitiu Vanderlei Luxemburgo, tinha obsessão pelo espanhol Miguel Ángel Ramírez e terminou com Abel Ferreira. Não existe elo entre os três estilos.

Há inúmeras provas da insanidade brasileira. Em 2019, o Flamengo foi de Abel Braga a Jorge Jesus. Em 2020, de Domènec Torrent a Rogério Ceni. Trocou Jorge Sampaoli por Tite em 2023. Cadê a conexão de estilos? São os dois clubes mais ricos do país! Ambos reféns de uma gestão padrão: tentativa e erro.

A escolha do Vasco por Fernando Diniz, para mim, um dos melhores do país, é válida, porém demanda pés de obra qualificados e paciência de Jó. Audax e Fluminense tiveram. Os demais, incluindo a CBF, não. Em vez de insistir no dinizismo, o presidente Ednaldo Rodrigues o demitiu depois de seis jogos nas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2026.

Nem o próprio Vasco respeitou o processo — uma das palavras da moda na linguagem politicamente correta dos executivos da bola. O presidente do clube era outro em 2021, mas Fernando Diniz passou apenas 12 partidas no cargo entre 14 de setembro de 2021 e 11 de novembro de 2021 na Série B do Campeonato Brasileiro. Ele caiu depois de o Gigante da Colina perder por 4 x 0 para o Botafogo e de 3 x 0 do Vitória.

É curiosa também a destreza, a sensibilidade do Vasco ao contratar Diniz, personagem de uma das tretas recentes do futebol brasileiro com o meia Tchê Tchê na passagem deles pelo São Paulo. Para advogados, houve flagrante assédio moral naquele episódio.

"Não posso falar com você", questionou Tchê Tchê à época no bate-boca no gramado do MorumBis.

"Não pode, mesmo", respondeu Fernando Diniz. "Tem que jogar, c… seu ingrato do c…, seu perninha do c…, seu mascaradinho do c…, vai se f…", disparou o treinador.

O trabalho de Fernando Diniz no Vasco terá de começar com uma reconciliação. Depois do perdão, a sequência sugere paciência. O Vasco está disposto a esperar o tempo necessário, como fizeram Audax e Fluminense? A ver...

MP
postado em 10/05/2025 06:05
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