ARTIGO

Repensando o Brasil

A trajetória até agora trilhada não vem conduzindo o Brasil ao status ambicionado de país desenvolvido ou então impõe um período de alcance inconvenientemente longo

Opinião 0207 -  (crédito: Caio Gomez)
Opinião 0207 - (crédito: Caio Gomez)

Marcello Averbug — Consultor econômico, trabalhou no BID, economista aposentado do BNDES

Desde meados do século 20, predominou entre os brasileiros a certeza de que o país caminhava em direção ao desenvolvimento econômico, social e político. Hoje, existem sinais de que, em significativa parcela da população, tal certeza vem esmorecendo. Torna-se oportuno, portanto, verificar se a fisionomia do Brasil equivale à de um país acercando-se do privilegiado status há tanto tempo almejado.

Importantes êxitos foram conquistados pela economia brasileira ao longo do tempo, tais como: expressivo setor industrial, sofisticado sistema financeiro, dinâmicos ramos da agropecuária e apreciável atividade exportadora. Porém, ainda não ingressamos no clube dos desenvolvidos. Cabe, então, avaliar a natureza do crescimento ocorrido historicamente, o que pode ser realizado observando-se alguns indicadores da realidade nacional. Comecemos com a dimensão do PIB, o Produto Interno Bruto.

Nós brasileiros nos envaidecemos pelo fato de o PIB nacional ser um dos maiores do mundo, oscilando em torno do décimo lugar. Porém, essa classificação, por si só, é insuficiente para provocar júbilo, pois não permite auferir o verdadeiro cenário de uma nação. O que interessa é a excelência do padrão de vida predominante. No Brasil, a persistência de profundos desequilíbrios econômicos, sociais e regionais ofuscam o brilho do décimo lugar.

Países da Europa Ocidental que exibem os melhores níveis mundiais de qualidade de vida ocupam lugar pouco relevante na escala de tamanho do PIB. Por exemplo: Dinamarca, 39º; Noruega, 32º; Suécia, 24º; Suíça, 20º. Evidentemente, esse fato é condicionado pela relação entre o pequeno número de habitantes locais e os respectivos PIBs.

No referente ao valor da renda per capita, a posição do Brasil na escala internacional retrocedeu, conforme demonstram dados do Banco Mundial: em 2003, ocupávamos a 70ª posição, caindo para a 85º em 2023. Em outras palavras: a renda média dos brasileiros cresceu menos do que a do conjunto dos demais países.

Pinçando outro aspecto da realidade nacional, verifica-se que a produtividade da economia dos membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é mais de três vezes superior à do Brasil, conforme aponta o texto Indicadores Quantitativos da OCDE e o Brasil - IPEA 2023. Mediante esse dado, percebe-se a dimensão do esforço a ser empreendido pelo nosso país para atingir o nível de competitividade compatível com suas aspirações de grandeza.

Na esfera dos indicadores sociais, ocorreram algumas melhorias modestas, entre as quais a diminuição da taxa de pobreza absoluta. O panorama permanece insatisfatório em itens como saneamento básico, mortalidade infantil, analfabetismo funcional, sistema público de saúde, segurança alimentar, qualidade do ensino, deficit habitacional e vários outros indicadores.

Quanto ao grau de concentração de renda, a acentuada inequidade cristaliza um cenário adverso à ascensão econômica e social do país. Enquanto aos 10% mais ricos couber uma fatia da renda nacional quase três vezes maior do que a usufruída pelos 50% da base da pirâmide populacional, o Brasil não conseguirá mudar seu destino. Segundo a Fundação Getulio Vargas, entre 2017 e 2022 o aumento de renda dos 1% mais ricos foi de 67%, enquanto o de 95% da população foi de 33%, a preços correntes.

Em face do exposto anteriormente, conclui-se que a trajetória até agora trilhada não vem conduzindo o país ao status ambicionado ou então impõe um período de alcance inconvenientemente longo. E ambas as alternativas são inaceitáveis. O que também justifica preocupação é a atual inexistência de lideranças políticas capazes de conceber caminhos eficazes para o Brasil ingressar em um autêntico e duradouro processo de prosperidade econômica e social. A atual carência de figuras públicas de nível elevado chega a ser dramática.

Apesar do conteúdo nada eufórico dos parágrafos anteriores, este artigo não apregoa o "Adeus às ilusões". Pelo contrário, pretende, sim, contribuir para conscientizar a sociedade brasileira quanto ao fato de que o país dispõe de requisitos que não justificam conformismo ante o desempenho vivenciado até hoje. Afinal, são raras as nações possuidoras do seu acervo de fatores propensos ao desenvolvimento.

 

Por Opinião
postado em 02/07/2025 06:00
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