
No interior do sertão brasileiro, o matuto diria que é o fim dos tempos. Alguns países no mundo proíbem a Parada do Orgulho LGBTQIAPN ou criminalizam o amor, enquanto outros normalizam a matança desenfreada e a imposição da fome sistemática aos palestinos na Faixa de Gaza. Governos parecem nada incomodados com as flagrantes violações dos direitos humanos cometidas pelas políticas xenófobas de Donald Trump e pela constante agressão às instituições de ensino superior, formadoras do pensamento critico. Não se discute o fato de que a contestação política é fundamental para o bem-estar social e a democracia. No fim das contas, a força do dinheiro, desarrazoada e perversa, silencia tudo o que mais há.
Vivemos tempos sombrios. Alguns de nós achamos absolutamente normal que a segunda maior potência nuclear do planeta e seu aliado maior regional no Oriente Médio — também detentor da bomba atômica — lancem mísseis e promovam assassinos seletivos em uma terceira nação, sob a justificativa de evitar que ela consiga obter uma arma nuclear. Nação essa signatária do Tratado de Não Proliferação, mecanismo de contenção do armamento de destruição em massa ao qual Israel não aderiu.
Muitos de nós, brasileiros, consideramos válidos os pedidos públicos de anistia a vândalos e golpistas, enquanto não cobramos a punição de censores e torturadores da ditadura, além da reparação histórica às vítimas dos calabouços e das masmorras do DOI-Codi. Mais: não repudiamos aquelas autoridades ou cidadãos comuns que, quatro décadas depois, ainda flertam com o cerceamento das liberdades e pedem a volta do regime militar, sem compreenderem o golpe de morte na democracia conquistada a sangue e lágrimas.
Vivemos o "fim dos tempos". Enquanto milhões de brasileiros ainda lutam contra a penúria, um nababesco Congresso Nacional decide ampliar o número de deputados, aumentando os gastos públicos e fechando os olhos aos mais necessitados. A chamada "casa do povo" trai o povo. Também adota medidas contrárias aos interesses nacionais, em nome do ódio e da polarização política. Em resumo, sabotam o futuro do Brasil.
Muitos de nossos valores estão corrompidos. A empatia deu lugar ao ostracismo, à inação, à incapacidade de olhar para o próximo e de estender-lhe as mãos. Vários de nós parecemos anestesiados ao nos vermos expostos a imagens do horror na Faixa de Gaza ou na Ucrânia, com matanças indiscriminadas, drones atravessando prédios, desespero. Por não ser nossa realidade, preferimos fechar os olhos e seguir em frente. Às vezes, o mesmo olhar acaba por ignorar quem está próximo: o pedinte na esquina; a mãe, desesperada por um litro de leite para o filho; o pai, ameaçado de despejo com a família. Precisamos buscar a humanidade em nós mesmos.
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