
PAULA BELMONTE, deputada distrital, segunda vice-presidente e procuradora Especial da Mulher na Câmara Legislativa
Quando uma mulher é violentada, todas nós sangramos. E o que mais fere, às vezes, não é o ato violento em si, mas o silêncio que o cerca. O silêncio das instituições. O silêncio dos colegas. O silêncio de uma sociedade que se acostumou a banalizar o inaceitável.
Protocolei, com o apoio das minhas colegas deputadas distritais Dayse Amarílio, Doutora Jane e Jaqueline Silva, além do deputado Pastor Daniel, o pedido de suspensão do deputado Daniel Donizet por 90 dias. A iniciativa, formalizada pela Procuradoria Especial da Mulher da Câmara Legislativa, representa um movimento necessário diante de um cenário de silenciamento e omissões que, por vezes, favorecem a impunidade.
Como procuradora Especial da Mulher e segunda vice-presidente da Câmara Legislativa, tenho atuado para garantir que o debate avance com seriedade, responsabilidade e amparo institucional. Não se trata de uma disputa política, mas da preservação dos direitos das mulheres, da integridade do mandato parlamentar e da credibilidade da própria Câmara Legislativa. É disso que estamos falando quando tratamos de acusações graves como assédio, abuso de poder e outras condutas incompatíveis com o decoro.
O caso mais recente, amplamente noticiado, em que o deputado teria sido flagrado dirigindo sob efeito de álcool e teria tentado usar a condição de deputado para interferir em uma abordagem policial, apenas reforçou a urgência de uma resposta institucional clara. A sociedade exige e merece esse posicionamento.
Ao longo dos últimos anos, avançamos em muitas frentes na luta pela proteção das mulheres. Leis foram aprovadas, estruturas foram criadas, redes de apoio foram fortalecidas. Mas sabemos que a cultura da violência ainda resiste, muitas vezes de forma silenciosa, disfarçada ou velada. Por isso, cada gesto importa. E cada omissão, também.
Na condição de procuradora da Mulher, acompanho de perto a realidade enfrentada por muitas mulheres em diferentes ambientes. A experiência no cargo tem mostrado que a violência de gênero, muitas vezes, se manifesta de forma sutil, silenciosa e persistente; e que ainda há um longo caminho para que todos os espaços de poder sejam também espaços de segurança, equidade e respeito.
É por isso que levamos a Procuradoria Especial da Mulher para fora dos limites da Câmara Legislativa. Nossas ações nas escolas e nas regiões administrativas do Distrito Federal têm como objetivo escutar, conscientizar e prevenir. Sabemos que a transformação começa pela educação, sobretudo entre os mais jovens. Quando falamos de respeito, igualdade e empatia nas escolas, estamos semeando uma nova cultura, que deve ser de paz, de respeito e de valorização da dignidade da mulher.
Entendo ainda que a independência econômica é um dos caminhos mais eficazes para romper ciclos de violência. Por isso, defendo o fortalecimento de políticas públicas que incentivem o empreendedorismo feminino como instrumento de autonomia e superação. Quando uma mulher conquista sua liberdade financeira, ela amplia suas possibilidades de escolha e reduz as chances de permanecer em relações abusivas. O apoio à mulher também passa por oportunidades concretas de trabalho e renda.
Sob o comando firme do presidente Wellington Luiz, a Câmara Legislativa tem dado passos importantes. Ver deputadas de diferentes partidos reunidas em torno dessa causa é sinal de maturidade institucional e sensibilidade política. A proteção às mulheres não é uma pauta de um grupo ou de uma ideologia. É um compromisso coletivo, que atravessa diferenças e exige união.
Ao defender a continuidade dos processos e a aplicação das sanções previstas, não falo apenas como parlamentar. Falo como mulher, como mãe, como cidadã. Falo com a serenidade de quem acredita que o parlamento tem um papel central na construção de uma sociedade mais justa e que esse papel começa dentro de casa, com a forma como lidamos com as nossas próprias responsabilidades.
Seguiremos firmes, com equilíbrio e coragem, para que a Justiça prevaleça e para que nenhuma mulher se sinta sozinha diante da violência.
Não vamos nos calar.