É tempo de renovar

Dalai Lama anunciou o processo de sucessão, o papa Francisco deixou tudo preparado para Leão XVI e Fernanda Montenegro, após o filme Vitória, sinalizou que foi sua última participação no cinema. Seguir adiante é também deixar que outros cumpram a missão iniciada com sabedoria e humildade

Nascido Lhamo Thondup, que significa
Nascido Lhamo Thondup, que significa "deus que realiza desejos", dá uma lição ao mundo sobre o momento de parar, renovar e dar oportunidade ao outro - (crédito: Niharika KULKARNI / AF)

Aos 90 anos, Dalai Lama, a santidade do budismo tibetano, anunciou que prepara o sucessor. Detalhe: pela tradição religiosa, a revelação do novo líder só ocorre quando o anterior morre. Nascido Lhamo Thondup, que significa "deus que realiza desejos", dá uma lição ao mundo sobre o momento de parar, renovar e dar oportunidade ao outro, considerando que, há mais de oito décadas, ele é a referência maior da resistência pacífica e permanente em nome da autodeterminação movida pela fé.

De forma semelhante agiu o papa Francisco, de 88 anos. Pouco antes de morrer, Jorge Bergoglio sinalizava que estava próximo de encerrar sua tarefa espiritual. Antes, ele organizou, nos mínimos detalhes, as mudanças que considerava necessárias para a Igreja Católica Apostólica Romana em pleno século 20: abriu espaço para os excluídos, flexibilizou normas seculares e mostrou que, com brandura e amor, a fé cura e perdura.

Recentemente, ao ser homenageada pelo filme Vitória, Fernanda Montenegro, de 95 anos, avisou que esta seria sua última participação nas telas, porque cinema era deveras desgastante para alguém na sua idade. Mas que seguiria na sua vocação e na arte, tanto é que mantém os espetáculos, as leituras e os monólogos. Por onde passa, arranca aplausos, elogios e mexe com as emoções, porque a Grande Dama é sempre ela, independentemente de supostas limitações.

Não sei se essa decisão de "parar para renovar" é exclusiva dos iluminados ou se os mortais comuns teriam a mesma a sensibilidade. Seria bom perceber que chegou a hora de passar o bastão para alguém com habilidades e competência. Não é fraqueza ou ausência de capacidade. É simplesmente observar que a vida muda, e que a transformação existe porque as pessoas envelhecem, têm novas perspectivas e as exigências também são alteradas.

Fantástico ver cirurgiões, médicos, arquitetos, professores, jornalistas e tantos outros profissionais na ativa próximos aos 100 anos, mas, certamente, terão reduzido a carga horária e o número de atendimentos. Essas mudanças são mais do que desejadas, são necessárias. A vida é a inovação também para quem se propõe seguir. É adorável ver senhores e senhoras, na faixa dos 90, concluindo um curso superior, namorando e casando de novo, ganhando competições esportivas ou participando de aventuras.

Viver, para iluminados e mortais, é olhar para frente com prazer e satisfação, sabendo que há muito o que realizar de maneira feliz, transformando ao redor também com alegria. Do contrário, a vida vira um fardo, pesado de se carregar e difícil de encarar, além de ser um estorvo para os vizinhos. Seguir adiante é também deixar que outros cumpram a missão iniciada, uma lição de sabedoria e humildade.

 

  • Idosos representam 15,8% da população total, segundo o IBGE
    Seria bom perceber que chegou a hora de passar o bastão para alguém com habilidades e competência. Não é fraqueza ou ausência de capacidade. Foto: Richard Sagredo/Unsplash
  • Renata Giraldi
    Renata Giraldi Foto: CB Press
postado em 07/07/2025 06:00
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