
As alegações finais apresentadas pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, no processo em tramitação no Supremo Tribunal Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, deram uma amostra do que teremos pelos próximos dois meses, a data prevista para julgamento na Primeira Turma do caso da trama golpista: uma escalada contínua do enfrentamento nas redes sociais.
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A partir da noite de segunda-feira, quando a equipe de Gonet entregou ao STF o pedido para enquadrar Bolsonaro em cinco crimes, entre eles golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, pela conspiração de 2022, percebemos um acirramento da polarização com um lado defendendo a prisão do ex-presidente e outro cobrando um aumento da pressão dos Estados Unidos em cima do Brasil por conta do processo em tramitação no Supremo.
O primeiro ponto que precisa ser visto com atenção é que o aumento da polarização traz o extremismo a reboque. Vimos, desde a eleição de 2022, episódios como o caso da bomba no caminhão-tanque no aeroporto, a tentativa de invasão à sede da Polícia Federal, os atos golpistas do 8 de janeiro, mortes e ameaças constantes, o que não pode voltar a se repetir. Estamos numa democracia e a paz social se faz necessária.
Desde a redemocratização, o país vive uma intensa polarização. Após o triunfo de Collor, em 1989, PT e PSDB passaram a se revezar nas seis eleições presidenciais seguintes. De 2014 em diante, com a saída dos tucanos de cena, presenciamos uma mudança no tom, com a contestação do resultado das urnas e desrespeito às instituições presentes nos discursos que ganharam força com as redes sociais. Sem dúvida, uma truculência eleitoral que não existia no país.
O segundo ponto é que, definitivamente, o futuro do bolsonarismo está em xeque. É cedo para cravar como será a eleição presidencial do ano que vem, mas é nítido que a adesão a ele por candidatos da direita pode ter um custo político muito alto.
Nesta última semana antes do recesso parlamentar no Congresso, deputados questionavam, cada vez mais uns aos outros, se Bolsonaro ajuda ou atrapalha. Muitos veem uma falta de lógica em incitar um governo estrangeiro, no caso os EUA, contra o Brasil. "Agora, vamos poder sentir na nossa base eleitoral como está a percepção das pessoas. Mas temos visto, sim, uma perda de apoiadores. Os nomes da direita que acertarem o discurso vão colher frutos lá na frente", me disse um deputado da Frente Parlamentar da Agropecuária, a FPA.
A efetiva promessa do tarifaço de Donald Trump, a partir de 1º de agosto, e o julgamento da trama golpista, até meados de setembro no Supremo, serão as primeiras peças do tabuleiro eleitoral de 2026. É imperativo que o interesse nacional prevaleça sobre as disputas ideológicas, garantindo que os próximos meses não sejam apenas um prenúncio de batalha eleitoral, mas um período de reflexão sobre os caminhos para fortalecer nossa democracia e proteger nossa economia.