Artigo

Brasília resiste

Por vezes, política é droga pesada, capaz de embaçar o olhar. Há surtos mais prazerosos, ativados pela presença forte do nosso Cerrado, do céu, do lago, do empreendedorismo candango, da cultura

Rodas de chorinho e percussão pelo Parque da Cidade: momentos únicos -  (crédito:  Batukenjé/Divulgação)
Rodas de chorinho e percussão pelo Parque da Cidade: momentos únicos - (crédito: Batukenjé/Divulgação)

 Ver Brasília além da política ainda é privilégio do brasiliense. Digo privilégio porque não há nada que se compare ao prazer de vivenciar a cidade com os sentidos. Por vezes, política é droga pesada, capaz de embaçar o olhar. Há surtos mais prazerosos, ativados pela presença forte do nosso Cerrado, do céu, do lago, do empreendedorismo candango, da cultura. Arte é resistência e tem um efeito transformador. 

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Fui à estreia do festival Cena Contemporânea na última terça-feira, na sala Martins Penna do Teatro Nacional. Um teatro lotado para assistir à peça de Renata Sorrah, ouvir o discurso de Guilherme Reis, ex-secretário de Cultura e mentor do festival, sentir a pulsação do palco, que emana tanta coisa boa em direção à plateia. Nesta edição histórica que marca os 30 anos do festival, serão mais de 30 espetáculos a preços baixos em cinco espaços culturais da cidade. Até dia 9 de setembro, muitas atrações incríveis estarão por aqui. Entre eles, Gregório Duvivier, um dos nomes mais conhecidos do humor no Brasil, que estará em cartaz terça e quarta, na Martins Penna, com a comédia poética O Céu da Língua.

O Cena Contemporânea, assim como o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e outras iniciativas culturais, traz um frescor à cidade, a quem vive por aqui, aos artistas que nos visitam, sempre recebidos com casas lotadas e muito carinho do público. 

Costumo andar por Brasília com o olhar atento para registrar momentos únicos. Rodas de chorinho e percussão pelo Parque da Cidade, por exemplo. Sempre encontro. Na semana passada, o parque recebeu um evento que me emocionou. O Interfashion Brasília, festival de moda, trouxe uma homenagem linda, idealizada pelo produtor Fernando Lackman, a Socorro Vale, uma das primeiras a lançar uma marca de moda praia em Brasília, a Vento Radical. 

Aos 87 anos, Socorro é um exemplo de resistência, como pontuou Fernando. A coleção Cerrado: Quando o Céu beija a Terra, inspirada nos tons dourados do pôr do sol e na intensidade do entardecer, "celebra a força, a beleza e a poesia desse encontro único entre céu e terra", conforme definiram os criadores.

A temporada de seca em Brasília sabe ser deslumbrante e proporciona convites em série para viver a cidade como se estivéssemos em pleno verão. A seca, de fato, é nosso verão. Aproveitar essa estação tão peculiar e tão bonita é privilégio, oportunidade para lembrarmos que nossa vocação vai muito além da política. 

E, falando de arte e cultura, não poderia deixar de registrar minhas homenagens a dois grandes nomes: o cartunista Jaguar, um dos fundadores do Pasquim, criador de grandes personagens, e o escritor Luis Fernando Verissimo, autor de mais de 70 obras, além de crônicas e outros trabalhos tão importantes. Dois ilustríssimos artistas que tanto contribuíram para a cultura nacional, mas também ao jornalismo brasileiro, deixam legado, mas também muitas saudades. 

 

 

postado em 31/08/2025 06:00
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