RIO DE JANEIRO

Não só respostas, mas quais são os próximos passos no combate às facções

O uso de tecnologia militar em confronto urbano, com 121 mortos, eleva o patamar do conflito. O Brasil está pronto para declarar guerra às facções?

"O enfrentamento ao crime organizado chegou a um ponto em que improvisos e operações episódicas não bastam mais" - (crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)

A Operação Contenção, com 121 mortos e mais de 2,5 mil agentes envolvidos, é, sem dúvida alguma, um marco na política de segurança pública do Rio de Janeiro, quiçá do país. A dimensão da ação, a mais letal da história, e a sofisticação bélica do crime organizado, que utilizou drones armados para atacar policiais, evidenciam que o Estado enfrenta um inimigo que não atua nas sombras, mas em campo aberto. A pergunta que se impõe, agora, é se o Brasil está prestes a declarar uma guerra formal às facções criminosas.

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O enfrentamento ao crime organizado chegou a um ponto em que improvisos e operações esporádicas não bastam mais. A sociedade clama por ações concretas contra o PCC, Comando Vermelho e afins. Se a resposta do Estado for, de fato, uma guerra, ela precisará ser conduzida com estratégia, inteligência e coragem de enfrentar os custos humanos e políticos.

A megaoperação de terça-feira deu uma amostra do tamanho do desafio. O primeiro ponto é que as facções deixaram de ser organizações confinadas a comunidades para se tornarem redes nacionais. Entre os mortos e suspeitos presos, havia "aliados" de ao menos quatro unidades da Federação. Enquanto o Estado alterna entre políticas de enfrentamento e hesitação, os grupos criminosos operam com logística, tecnologia e disciplina militar. O uso de drones armados é o símbolo de um novo patamar de conflito urbano.

Esse avanço tecnológico, porém, revela não apenas a audácia do crime, mas também o descompasso de um Estado que reage mais do que planeja. Historicamente, o Brasil trata a segurança pública como problema episódico: cada crise gera uma operação, cada operação produz manchetes — e, depois, o silêncio. A sucessão de confrontos letais no Rio mostra que as "operações de contenção" não contêm, apenas adiam. Falta um plano nacional de enfrentamento, que articule inteligência policial, controle de fronteiras, rastreamento financeiro e política social. Sem isso, o país continuará oscilando entre o espetáculo da repressão e a persistência da criminalidade.

Declarar "guerra" ao crime não é apenas uma metáfora. Um enfrentamento real implica em regras de engajamento claras, coordenação entre forças e redefinição de prioridades orçamentárias. As reações à megaoperação, por exemplo, dividiram o país: entre os que aplaudiram a ação policial como sinal de força e os que a denunciaram como tragédia.

É inegável que há momentos em que a força se impõe. As polícias agiram com coragem ao enfrentar um inimigo fortemente armado, e a morte de quatro agentes lembra o preço da missão. Mas, passados mais de dois dias da megaoperação, ainda precisamos de respostas do governo do Rio: quais os territórios foram retirados do Comando Vermelho e ocupados pela polícia? Quantos chefões estão presos? A facção perdeu força?

A coragem que o Brasil precisa não apenas é a de apertar o gatilho, mas a de sustentar políticas que devolvam ao cidadão o controle sobre a paz.

 


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postado em 31/10/2025 06:02
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