
LOMA SOLARIS, cantora, compositora, diretora artística e produtora-executiva
Tendo como corolário a expansão imperialista das potências europeias nos séculos 15 e 16, na América e na África, sob a égide papal, as empreitadas marítimas de Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda e França buscavam novos territórios que servissem de sustentáculo ao processo de acumulação primitiva de capital — elemento essencial do capitalismo mercantil daquele período. Nesse contexto, resgatou-se e adaptou-se a prática da escravidão já conhecida no mundo antigo, revestindo-a de novas justificativas coloniais.
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O trabalho escravo tornou-se, assim, pilar central da acumulação de capital, sendo a condição de escravizado inicialmente determinada por razões econômicas, às quais se somariam, posteriormente, contornos culturais e pseudocientíficos, usados para legitimar a barbárie inerente ao sistema escravista. O regime mercantilista vigente durante a colonização americana foi determinante para definir o perfil da mão de obra explorada.
Além dos negros africanos, a insanidade colonizadora recorreu à utilização de mão de obra branca pobre, considerada "escória" pela elite europeia. Muitos desses europeus foram enviados às Américas em condições precárias e degradantes — ora enganados quanto às reais circunstâncias no território de destino, ora deportados à força para servir às empresas coloniais. Criou-se, para isso, um aparato jurídico hipócrita que criminalizava mendicância, vadiagem, dissidências religiosas e, no caso das mulheres, até a acusação de bruxaria, legitimando sua deportação para as colônias recém-invadidas e saqueadas.
Brancos pobres, indígenas e negros, muito antes desse processo, foram desqualificados como "seres sem alma" — numa esquematização muito bem traçada e aplicada ao continente africano, cujas culturas, conhecimentos científicos, invenções importantes e riquezas naturais foram saqueados, enquanto seu povo, após sangrentas guerras, era sequestrado e escravizado.
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Com a implementação do tráfico humano, a moeda de troca utilizada era a manila, um objeto de cobre com cerca de 86 gramas, empregado para "comprar" vidas de mulheres para exploração sexual, reprodução e trabalhos domésticos; africanos para trabalhos forçados sendo comparados aos animais. Esse modelo administrativo, marcado pelo imediatismo e pela crueldade, consolidou crenças ainda presentes, como a ideia de que mulheres são perigosas e devem ser desclassificadas; negros são naturalmente inclinados ao crime; idosos devem permanecer em silêncio; e executivos são, por definição, livres.
Simone de Beauvoir sintetizou essa lógica desumanizadora ao afirmar: "O maior crime que podemos cometer é destituir o ser humano de sua humanidade."
Essa pequena parte de compilados demonstra que as histórias de invasões, piratarias e das guerras que conhecemos muito bem, não dignificaram a humanidade, mas estrategicamente têm servido para nos mostrar mais do mesmo, e menor possibilidade de que algum dia, o bem possa vencer os de conduta equivocada.
Por quanto tempo ainda seguiremos de olhos vendados ignorando as origens? E a força inerente à nossa própria vontade?
Essa cartilha de posicionamentos pseudopolíticos e de crenças que induzem racionais a cometerem barbáries contra os seus pares, realmente lhe convence? Ou transitas pela vida reverberando o inconsciente coletivo?
Esse inconsciente coletivo é constantemente alimentado e direcionado conforme a bola dos interesses da vez, impedindo que o indivíduo encontre tempo e espaço para refletir sobre si mesmo. Qual seria seu conceito de satisfação pessoal e de felicidade? São raros os que exercitam a autopesquisa sobre quem realmente são, na essência. Aprofundar o conhecimento por meio dos estudos sobre a nossa história, desde o homo sapiens, é recomendado a todo ser racional, com infinitas possibilidades de contribuição ao complemento de seu reconhecimento identitário.
Mister salientar que as coisas mundanas não terão espaço na bagagem para a tão temida viagem, não é mesmo? Dito isso, oportuno alertar que toda forma de tortura, genocídio, perseguição, eugenia marginalizada, racismo, xenofobia barganhas… seguirá deformando consciências e certamente levará a humanidade à ruína do corpo e da mente. E quem faz isso sabe muito bem o que está fazendo.
Entretanto, nem tudo está perdido neste mundo de possibilidades, como muito bem escreveu o poeta Colmar Duarte. Alguns de seus versos foram musicados pelo compositor Sergio Rojas, cuja inspiração me norteia: "Não me basta achar caminhos, eu quero a razão da estrada. Galopa vida galopa, que o tempo pode acabar."

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