
A provável saída do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, voltou a ganhar volume ontem. Isso porque o deputado federal Guilherme Boulos (PSol-SP) fez parte da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que foi ao velório de José "Pepe" Mujica. O parlamentar é cotado para substituir Macêdo — que, por sinal, também estava no grupo que foi a Montevidéu para as homenagens ao ex-presidente do Uruguai.
Só que a possibilidade de Boulos integrar o grupo de auxiliares diretos de Lula desagrada ao PT. Apesar de o desempenho de Macêdo ser criticado por setores do governo e por aliados do presidente, a troca na pasta faria parte de uma série de ajustes no primeiro escalão a fim de melhorar o desempenho da gestão e dar início aos preparativos para as eleições de 2026.
Com boa presença nas redes sociais, área onde o governo não consegue fazer frente à oposição, Boulos foi um dos principais cabos eleitorais de Lula em São Paulo, nas eleições de 2022. O parlamentar já sinalizou a aliados estar disposto a participar do governo e, até mesmo, a sacrificar a postulação a algum cargo eletivo, no próximo ano. O presidente avisou que não quer um ministro que tenha de se desencompatibilizar, menos de um ano depois de ocupar o cargo.
A possibilidade de Boulos virar ministro também incomoda uma ala do governo federal, ligada ao PT. Segundo interlocutores com trânsito no Palácio do Planalto, e ouvidos pelo Correio, há o temor de que a troca dê ainda mais munição à oposição para atacar o governo. Isso porque Boulos é um político controverso devido ao histórico como líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e pelas participações em ocupações e imóveis.
Interlocução
Além disso, essa mesma ala petista do governo aponta que Boulos e o próprio MTST têm pouca interlocução com outros movimentos sociais, o que pode gerar atritos, já que a Secretaria-Geral é responsável pela articulação do Poder Executivo com as entidades de base e setoriais do campo progressista. A expectativa é de que Lula bata o martelo sobre a troca nos próximos dias.
Legendas do Centrão também estão incomodadas com a possibilidade de Boulos ter uma linha direta com Lula, no Palácio do Planalto. A avaliação é de que, ao colocar Gleisi Hoffmann na Secretaria de Relações Institucionais (SRI) e, possivelmente, o deputado do PSol na Secretaria-Geral da Presidência, Lula indica que vai apostar em uma movimentação rumo à esquerda, daqui até as eleições de 2026.
Em entrevista ao Correio, publicada na terça-feira, Macêdo frisou que Lula "nunca tratou comigo sobre reforma ministerial. Continuo trabalhando, tocando as coisas consciente de que este é um cargo do presidente, que ele bota e tira quem quiser, a hora que quiser. Isso vale para mim ou para qualquer outro ministro". Mas não perdeu a oportunidade de alfinetar Boulos.
"Se as pessoas estão se oferecendo para vir para o governo, é porque o governo está bem", provocou.