
As tensões entre os governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, agravaram-se após a recusa do Brasil de conceder o agrément ao embaixador do Israel em Brasília, Gali Dagan. De acordo com o jornal The Times of Israel, Tel Aviv “rebaixou os laços” com o Brasil depois da rejeição ao diplomata. O rebaixamento é um sinal de descontentamento com as ações do outro país, medida utilizada como instrumento de pressão para mudança de posição, mas também interpretada como provocação.
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Na diplomacia, “rebaixamento de laços” significa redução ou interrupção do nível de relações entre países. Não há gradação em teoria, mas, na prática, entende-se que, quanto mais baixo o nível hierárquico do diplomata encarregado de negócios, mais rebaixada está a relação. É o esfriamento das relações, podendo impactar na diminuição das missões diplomáticas (embaixadas e consulados) até a suspensão ou mesmo o rompimento total das relações diplomáticas, como forma de protesto, gestão de crises ou sinalização política.
Parte desses efeitos já ocorrem, como a retirada de embaixadores. Atualmente, há um representante de negócios do Brasil em Israel, respondendo pela embaixada em Tel Aviv. Em casos mais extremos, pode haver o encerramento das atividades das representações diplomáticas e a diminuição da cooperação bilateral, inclusive, com suspensão e cancelamento de acordos e intercâmbios.
Durante o apartheid na Africa do Sul, o Brasil rebaixou a relação e manteve, como encarregados, segundo ou primeiro-secretário, e não um ministro-conselheiro, por exemplo.
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"Genocídio"
Há seis meses, Lula chamou de volta para Brasília o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer. Na ocasião, foi uma reação do governo do Brasil à repercussão negativa às afirmações do presidente sobre o tratamento dispensando por Netanyahu aos palestinos. O petista comparou o que se passa em Gaza ao “genocídio” promovido pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Segundo ele, Israel agia como “Hitler quando decidiu matar os judeus”. A partir daí, o chefe do Executivo passou a ser tratado como uma “persona non grata” pelo governo de Israel.
Na segunda semana deste mês, o então embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, deixou o posto, e o nomeado Gali Dagan, que estava na Colômbia, aguardava a sinalização do Palácio do Planalto para assumir as funções. Porém, essa indicação não ocorreu. Em audiência pública, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, argumentou que o governo brasileiro apenas reagiu ao tratamento dispensado ao diplomata brasileiro em Tel Aviv, que teria sido humilhado.
Antes de deixar o Brasil, Zonshine lamentou o recrudescimento das relações com Israel. Gali, nomeado para sucedê-lo, deixou a Colômbia em meados de 2024 depois de tensões com o governo de Gustavo Petro — crítico aberto das ações de Netanyahu na Faixa de Gaza e, assim como Lula, classificou a guerra como “genocídio”. (Colaborou Rodrigo Craveiro)