
É na mesa de bar ou em um encontro qualquer para assistir a uma partida de futebol que alguns homens podem se desfazer de suas máscaras sociais. Essas que, geralmente, escondem o que de fato são quando estão perto de mulheres. Nesse recinto, podem explorar uns com os outros as piores partes de si — que talvez eles nem consideram ruins. Assim, como um rito geracional, essa tradição também acompanha os mais novos, em um claro efeito colateral daquilo que o universo masculino adora em sua própria essência. Mas, diferentemente dos antepassados, é na internet que a juventude se sente à vontade para compartilhar preceitos misóginos.
Disfarçado de opinião, o ódio nessa terra supostamente livre é uma ação comum para quem está hiperconectado. No dedilhar das telas, o algoritmo pode ser cruel, induzindo aqueles que pouco sabem do mundo a pensar que deveriam ser mais "machões", mesmo que ainda tenham, por baixo, entre 13 a 18 anos. Talvez os mais novos não tenham noção, mas discursos como esse, que colocam os homens em um pedestal de adoração, são os que podem se converter em violências, tanto verbais quanto físicas.
Isso, de certa forma, ficou evidente na série do momento. Adolescência, criada pela Netflix, fala sobre bullying, redes sociais e, sobretudo, misoginia — já que o personagem principal, Jaime Miller, 13 anos, é acusado de matar uma colega de escola a facadas. A trama, claro, é emocionante, impactante e gera desconforto para quem desconhece o submundo das redes sociais e das comunidades que espalham ódio em seus códigos próprios e individuais.
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Contudo, como dizem, a arte imita a vida. E a realidade, por vezes, é o que muitos estão assistindo. No Brasil, a misoginia é crime, caracterizado, principalmente, pelo discurso de ódio contra as mulheres. Entre 2022 e 2023, 2.863 mulheres foram assassinadas no país. De 2017 a 2022, de acordo com a SaferNet, mais de 293,2 mil denúncias de crimes de ódio contra mulheres foram registradas. Nos jornais, as notícias se repetem e a indignação toma conta da sociedade. Até quando? Muitos questionam. Por isso, a nova geração de meninos deve ser a resposta. Não criar mulheres para que saibam se proteger, mas educar garotos que consigam respeitá-las.
O submundo das redes

No imaginário social, a internet é um espaço, supostamente "livre" para se falar o que pensa, pois existe uma falsa sensação de anonimato. Na avaliação de Paulo Henrique Souza Roberto, professor do curso de psicologia da Uniceplac, há um aumento no uso de ferramentas convencionais e não convencionais, bem como o uso de fóruns localizados na "deep web" que servem para propagação de discursos de ódio contra as mulheres. Nesse sentido, elas são cotidianamente expostas a conteúdos que incitam, promovem e justificam o ódio baseado em questões de gênero.
"Muitas precisam lidar com a propagação de ofensas, divulgação não consentida de imagens íntimas, ameaças de morte, uso de humor para ridicularizar e difamar mulheres. Dentro dessa lógica misógina, desdobram-se essencializações sobre as mulheres que tanto a idealizam como a degradam, porque vivemos num tempo em que ódio virou fetiche. Por isso, estando intimamente expostas, a internet pode vulnerabilizar e adoecer mulheres, que estão o tempo todo em vigilância sobre esses aspectos que permeiam sua intimidade, e que podem vir a ser alvo de truculência e ódio desses homens", explica Paulo Henrique.
Dessa forma, diante de tanta informação que só leva à agonia e à fundamentação daquilo que nada tem de interessante para as crianças e os adolescentes, é de suma importância que pais e familiares estejam atentos ao que os meninos estão vendo na internet. Para o psicólogo, a utilização das redes sociais tem de ser acompanhada e mediada pelos pais, que devem dialogar acerca das principais questões que emergem das relações nesses espaços digitais.
Assim, os pais devem se interessar por contribuir com a discussão de temas sensíveis e participar para a ampliação de repertório, pois a grande questão é que misoginia e machismo sempre existiram, mas a cooptação de adolescentes emergidos nesses discurso são potencialmente destrutivos. "A adolescência é a fase em que imperam os impasses sobre dilemas éticos, e os pais precisam ser entes de confiança e segurança quando se é necessário aprender. A identificação nessa fase precisa ser com o conhecimento dos pais, e não com a truculência e a violência de homens ensimesmados."
Dilemas da masculinidade
Quando se é homem, há tantos universos aos quais se é obrigado a pertencer. Futebol, boxe, carros, mulheres — obviamente como objetos sexuais. Enfim, os espaços são pouco receptivos quando alguém deseja falar sobre sentimentos. Historicamente, isso nem chega a ser comum ou benquisto, já que eles foram feitos, produzidos e configurados para serem como pedras sem emoções ou sensibilidade, "apenas fazer o que deve ser feito", é o slogan da machosfera pela internet.
Há, entretanto, aqueles que, por natureza ou desejo de mudança, optaram pela diferença, por outro caminho, que fosse menos doloroso ou até menos desprezível. Rafael Magalhães, 38 anos, faz terapia desde a adolescência, prática incomum, tanto para tempos passados quanto para um jovem como ele um dia foi. Todavia, foi em outros espaços que conseguiu encontrar a melhor forma de trabalhar sua masculinidade.
"Comecei a sentir que determinados pontos relacionados à minha masculinidade seriam melhor trabalhados na terapia compartilhada, na companhia de outros homens. Creio que o objetivo era justamente estar em um ambiente seguro, em que pudesse compartilhar essas ideias de uma masculinidade mais saudável, sem medo das repressões que sofremos cotidianamente ao levantar o assunto", confessa Rafael.
De lá pra cá, notou o quanto questões internas, que tanto lhe afetavam, faziam parte das problemáticas emocionais dos outros colegas presentes, imputando a cada um calvário de viver só dentro de suas emoções reprimidas neste universo da masculinidade tóxica. "Muitos de nós crescemos lidando com os problemas em silêncio, o que acaba levando a comportamentos agressivos, tanto com relação aos outros quanto a nós mesmos", completa.
Mas, ainda assim, essa revisão de si mesmo deve ser um trabalho contínuo, ao menos é o que enxerga Rafael quanto ao desenvolvimento pessoal que tem tido até aqui. "Vivemos décadas de uma criação machista que ainda se encontra incrustada na cultura masculina. É necessário, constantemente, rever esses comportamentos e interromper o crescimento da misoginia com relação às gerações mais novas", destaca. Para ele, a terapia é fundamental em qualquer idade, sobretudo para guiar meninos a um comportamento mais saudável, longe das concepções machistas e tóxicas as quais são constantemente criados.
Pai de um menino de 2 anos, Rafael crê que, atualmente, os pais tenham um desafio ainda maior, considerando a desinformação propagada pelas redes sociais. "Pretendo afastar isso com uma criação de muito amor, compreensão e diálogo, mas, ao mesmo tempo, estabelecer limites, principalmente no que diz respeito a possíveis comportamentos machistas, racistas e homofóbicos. É preciso estar atento e acompanhar o que as crianças consomem de informação na internet, procurando ajudá-los a elaborar um pensamento crítico sobre o assunto. Mas não só isso: é preciso atuar como modelo para nossos filhos, para que possam reproduzir um comportamento saudável no que diz respeito às mulheres", finaliza.
O "não" que vira ódio

A misoginia é um conceito que ganhou força na última década, no Brasil, especialmente por causa da escalada da violência contra mulheres. Segundo a doutora em sociologia Ana Paula Antunes Martins, dirigente do Núcleo de Estudos sobre Mulheres (NEPeM/UnB), esse fenômeno tem apresentado uma significativa persistência mesmo diante de um conjunto de medidas do Estado e da sociedade, o que revela a força de uma cultura patriarcal de subordinação e inferiorização das mulheres.
Mais do que isso, com o avanço da tecnologia e a iminência das redes sociais, tais discursos avançam sem precedentes, ganhando força em comunidades que se destinam a destilar ódio gratuito. "A insuficiente regulamentação da internet, especialmente das redes sociais, tem feito dela um nicho de atuação de grupos extremistas de cunho autoritário e antidemocrático. A democracia é um sistema que garante que desigualdades possam ser corrigidas pelos direitos fundamentais e pelas ações afirmativas", detalha Ana Paula.
Por essa razão, a articulação antidemocrática dessas comunidades, que atenta contra grupos vulnerabilizados, visa destituir as lutas por equidade. "São uma espécie de revanche orquestrada contra políticas públicas de enfrentamento a toda sorte de violências", acrescenta. O ódio contra as mulheres se amplia justamente nesse momento, em articulação com o racismo, a transfobia, a xenofobia e o capacitismo, para promover uma segregação severa que mantenha um estado de coisas em que grupos muito restritos dominam toda a estrutura de distribuição de poder e de usufruto dos recursos e bens sociais.
Na tentativa de desatar esses laços de ódio, é imprescindível compreender que a educação para os direitos humanos, que envolve saberes sobre a autonomia, a liberdade e o respeito ao corpo do outro são elementos constitutivos de uma agenda, largamente difundida por organismos internacionais, como a Unesco, para favorecer uma cultura em que mulheres sejam respeitadas como sujeitos de direitos, em todas as suas interseccionalidades.
"O aprendizado sobre os relacionamentos, em que o amor não está ligado ao poder, de modo que um 'não' jamais seja interpretado como um ataque à honra de um homem, é um eixo central para evitar que meninos se engajem nas redes de ódio pulverizadas na internet, o que tem se tornado um negócio lucrativo para grupos antidemocráticos", conclui a especialista.
O lamaçal dos red pills
Caso goste de passar boa parte do tempo rolando a tela em outras redes sociais de vídeos curtos, é comum que o algoritmo recomende aquilo que está mais em alta. De uns tempos para cá, tanto no X (antigo Twitter) quanto no TikTok, certos conceitos da "manosfera" passaram a ser repassados como se fossem verdades absolutas. Populares, também, entre os mais jovens, o termo red pill vem do filme Matrix, no qual o personagem que opta por tomar a pílula vermelha consegue enxergar o mundo da maneira correta.
A ideia, no entanto, é comumente utilizada nas redes sociais para propagar e legitimar o ódio contra mulheres, como explica o psicólogo Paulo Henrique. Historicamente, segundo ele, a moralidade atribuiu sentido à forma como os homens lidam com o seu desejo e, por isso, recorrem à moral para justificar seus impulsos, mesmo que a retórica seja contraditória.
"Esses homens querem a volta da masculinidade tradicional, mas criticam veementemente aqueles que se colocam na posição de provedores e cuidadores. Por outro lado, criticam mulheres por ancorar posições privilegiadas no mercado de trabalho, mas também desprezam aquelas que se dedicam ao cuidado da família", esclarece o profissional. Por isso, faz sentido a postura de dominação das mulheres — enquanto o homem está em caça, a mulher é seu objeto de desejo e conquista. "Precisam, para isso, de poder, dinheiro e autoridade", discorre o psicólogo sobre os red pills.
Dessa forma, os "ensinamentos" nas redes sociais são recorrentes, especialmente para os mais novos, como uma forma de elevar ainda mais a misoginia e o machismo na sociedade. "Em Nietzche, falamos de um homem ressentido e ensimesmado, que, por ser incapaz de se afirmar, busca impedir que o outro também se afirme, por isso, precisa reagir ferozmente para proteger intimamente sua fragilidade. Na psicanálise, compreendemos que essa é apenas uma forma de lidar com a angústia diante da sensação de desamparo frente ao feminino", conclui Paulo Henrique.
Assim, a única saída é remediar essa posição de fragilidade, postura que, supostamente, permite que esses homens superem seus medos e se tornem dominantes em suas relações com as mulheres. Por isso, reúnem-se em grupos, criam conteúdos on-line e, até mesmo, livros para disseminar sua visão de mundo, para se sentirem minimamente no controle, o que é uma ilusão. Sem questionar a si mesmo, o outro é sempre tido como algoz.
Fim do calvário
Após o fim de um relacionamento, Carlos Moura, 46, passou por um processo individual e interno sobre se perguntar se era mesmo o que sempre achava ter sido. "Eu me perguntava se era, realmente, um homem comprometido com questões relacionadas ao antimachismo e também ao feminismo", complementa. No início, percebeu que se apresentava como uma pessoa defensora dos direitos das mulheres.
Mas, com o passar do tempo, notou que havia nele sombras e raivas não reveladas, que tampouco Carlos reconhecia que existiam. "Mostrava ao mundo que era um homem muito seguro e resolvido, mas, por dentro, percebi que não era bem assim. E isso só aconteceu com 40 anos, porque é bem difícil perceber que muito do que fazemos são personagens que montamos para nos apresentar diante dos outros", conta.
Carlos queria se cuidar, também se entender melhor. Acreditava que, por meio do autocuidado, evitaria que essa escuridão se revelasse para o mundo exterior, o impedindo de se tornar alguém tão deprimido — o que já era algo que estava evoluindo sobre suas emoções. "Parece meio sem sentido, mas acho que buscava também compreender o que é ser homem, porque, na prática, ninguém sabe responder isso, e muitas vezes o modelo de 'ser homem' não é legal", ressalta.
Para ele, foi duro admitir que, apesar de ser uma pessoa sensível, preocupada com os outros, criado em uma família amorosa, carregava sentimentos que precisava investigar. Rever, sem dúvidas, conceitos machistas e culturalmente misóginos. A terapia compartilhada nasceu como um respiro diante de tanto caos. Demorou muito, mas depois dos 40 e tantos anos Carlos tem se encontrado.
"Consegui ver nos meus colegas coisas que eu via em mim. Tinha a oportunidade de conversar com outros homens que estavam dispostos a aprofundar e refletir sobre a vida. Quando se está em uma sala com homens de todo o tipo, mas que todos se colocam vulneráveis, a gente se desarma do medo. E quando o medo sai de cena, fica mais fácil enfrentar os demônios", confessa.
Essa palavra — medo — é bem importante para se falar sobre homens, acredita Carlos. De diversas maneiras, esse sentimento está presente nos relacionamentos do dia a dia do universo masculino. Seja o medo de não ser bem-sucedido diante dos amigos, de ser ridicularizado, de ser o menor, até o medo da violência física. Não há como fugir. Mas, aos poucos, tem se livrado desse calvário.
Pai de uma adolescente de 15 anos, revela a angústia de criar e educar uma menina para crescer em um mundo tão machista e misógino. "Não tem um jeito simples de resolver, pelo menos eu não conheço. Não sinto hoje que existam muitos espaços seguros para as mulheres. Não falo só da segurança física, mas da segurança psicológica, de poderem estar bem sem perseguir o tempo todo padrões que se esperam das mulheres", afirma.
No mais, o que pode fazer, e o que tem feito, é ser uma referência para que ela cresça sabendo que a régua sobre masculinidade é o pai que ela conhece. Além, é claro, de deixar aberto espaços para conversas sem filtro e um ambiente em que críticas são normais para que ambos possam evoluir. E amor, muito amor, pois, no fundo, é o que ela merece e precisa conhecer por enquanto.
É hora de conversar

A dramaticidade da série Adolescência e a capacidade de abordar tantos assuntos atuais, todos ao mesmo tempo, é o que tem feito da produção um sucesso importante e necessário. Levantando temas pertinentes, como bullying, misoginia e machismo, muitos se perguntam se a trama é baseada em fatos reais. Bom, sim e não. De acordo com o co-criador e ator Stephen Graham — pai de Jaime Miller, o garoto acusado de matar uma colega de escola a facadas, na produção —, a ideia por trás da série abarcava a onda de ódio envolvendo crimes entre adolescentes no Reino Unido.
Em entrevista à Radio Times Magazine, Stephen comentou que a atração vem de vários episódios isolados de violência que passou a notar nos noticiários. Assim, começou a se perguntar sobre o que, de fato, estava motivando tantos jovens a cometerem crimes desse porte. “O que está acontecendo na sociedade quando um menino esfaqueia uma garota até a morte?”, disse à Rádio britânica, a respeito de um assassinato que aconteceu em Liverpool, em 2021, quando uma menina de 12 anos foi esfaqueada por um garoto de 14.
Outro grande motivo para o desenvolvimento da série é a crise de masculinidade que garotos, adolescentes e até mesmo homens mais velhos enfrentam atualmente. Esse questionamento que vem do interior, como uma indagação que nunca cessa sobre quem realmente se quer ser, é o que colocou Stephen ainda mais imerso dentro da trama. Para ele, era uma pergunta que nunca havia feito. “O que está acontecendo com os rapazes hoje em dia, e quais pressões eles sentem de colegas, da internet e das redes sociais?”, questionou em entrevista à Netflix.
Entre pais e filhos
Diante de tanto debate e do nascer necessário do diálogo com os mais jovens, outra pulga atrás da orelha também apareceu: o que os pais podem fazer com os filhos presos à internet? Assim como mostra na série, Jaime (interpretado pelo ator estreante Owen Coope) parece um garoto tranquilo, que está presente em uma família amorosa e bem estruturada. O pai, como disse algumas vezes entre os episódios, sofreu com questões parentais na infância, sobretudo com o próprio pai. Entretanto, decidiu que não levaria isso em frente quando formasse, ele, uma família.
No entanto, é nessa tese de que “está tudo bem, o garoto está só no quarto”, que muitas famílias se esquecem de observar o que, às vezes, está morando no escuro da convivência familiar. Para Fabiano de Abreu Agrela, mestre em psicologia e pós-graduado em neuropsicologia, os pais precisam atuar como observadores clínicos dentro do núcleo familiar, mesmo sem formação técnica. Isso requer a capacidade de notar alterações de comportamento que destoam da personalidade típica da criança ou do adolescente.
“Mudanças no padrão do sono, alimentação, retraimento social, irritabilidade constante, procrastinação e desinteresse são marcadores que devem ser levados em consideração. Ao perceber sinais atípicos, os pais devem adotar uma postura de acolhimento sem julgamento, estabelecendo um canal de escuta emocional eficaz”, explica o profissional. Casos como o de Jaime revelam um fenômeno frequente: o "mascaramento funcional".
De acordo com Fabiano, o adolescente pode apresentar um funcionamento aparentemente adaptado (nota regular, interação básica), enquanto, internamente, vivencia processos psíquicos disfuncionais. Nesses casos, a chave está no rastreamento das microexpressões emocionais e nos comportamentos de escape simbólico: aumento de tempo em mundos virtuais, consumo excessivo de conteúdo, discursos existencialistas precoces, entre outros fatores.
O que fazer?
A prevenção, na avaliação do psicólogo Fabiano de Abreu Agrela, está fortemente vinculada à reestruturação dos padrões transgeracionais. “O erro mais comum é a delegação da responsabilidade de formação emocional à escola ou à tecnologia. Famílias que não definem projeto de vida conjunto, valores claros e coesão nas regras de convivência favorecem o surgimento de jovens sem estrutura simbólica de identidade. Estudos já comprovaram que falta de atenção emocional é um grande precursor de transtornos mentais”, afirma.
Para evitar isso, os pais devem adotar:
— Modelo de contrato familiar: estabelecimento explícito de valores, objetivos e comportamentos esperados no núcleo familiar.
— Educação emocional ativa: incluir conversas semanais sobre sentimentos, frustrações e sonhos, como estratégia de prevenção.
— Acompanhamento psicossocial preventivo: não esperar o colapso emocional para buscar ajuda profissional.
Pais e filhos devem assistir a Adolescência juntos?
Fabiano responde que sim, e que ele mesmo fez isso na companhia da filha e do enteado, ambos com 15 anos, sob uma ótica orientada. “A série pode ser usada como recurso pedagógico dentro de um projeto familiar de formação emocional. Assistir juntos permite que os pais validem o conteúdo, desmitifiquem narrativas e abram espaço para diálogo sobre experiências subjetivas”, ressalta. A mediação parental, nesse contexto, é crucial, pois evita a identificação passiva com modelos disfuncionais e possibilita a ressignificação simbólica das experiências assistidas, além de demonstrar preocupação, trazendo um momento afetivo em família.
Curiosidades sobre a série
Sem cortes: aos que já sabem e assistiram, a série Adolescência é gravada sem cortes, diferentemente das gravações mais tradicionais, no popular formato “plano sequência”.
Sucesso mundial: a produção, desde que estreou, é o maior sucesso da história da Netflix, sendo a série mais assistida da plataforma em todo o mundo.
Jovem ator: Owen Cooper, responsável por interpretar o garoto de 13 anos Jaime Miller, tinha 15 anos quando fez o papel do adolescente. Essa foi a primeira participação dele em uma produção, ou seja, estreou sendo um sucesso.
Música especial: caso não saiba, aquela última música, que aparece no final do segundo episódio da trama, foi cantada pela atriz que interpreta a vítima, Katie Leonard.