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Vacinação para herpes zoster pode proteger idosos contra Alzheimer

Estudo feito no Reino Unido mostra que idosos que receberam vacinação para o vírus herpes zoster tiveram uma redução de 20% no risco de apresentar um diagnóstico de demência em um período de sete anos

Pesquisas estudam se a imunização contra herpes zoster ajuda também na prevenção de demência -  (crédito: Reprodução/Unsplash/ Mufidmajnun)
Pesquisas estudam se a imunização contra herpes zoster ajuda também na prevenção de demência - (crédito: Reprodução/Unsplash/ Mufidmajnun)

Hoje podemos dizer que 50% das chances de desenvolvermos a doença de Alzheimer estão associadas a fatores genéticos e outros 50% a fatores ambientais. Entre os fatores ambientais, os vírus neurotópicos (i.e.,herpesvírus) sempre foram considerados potencias agentes etiológicos, mas nunca antes tivemos uma evidência tão robusta dessa associação como a pesquisa publicada esta semana pela revista Nature.

Em 2013, um programa de vacinação no País de Gales, no Reino Unido, por limitação na quantidade de doses, ofereceu vacinação para herpes zoster para indivíduos com 79 anos de idade; no ano seguinte, àqueles um ano mais jovens; e assim por diante. O programa acabou sendo um experimento natural ímpar, pois permitiu a comparação com os indivíduos de 80 anos que não tiveram acesso à vacinação, apenas poucos dias, semanas, meses mais velhos. Isso foi muito próximo ao modelo de pesquisa padrão ouro para inferência de uma relação causa e efeito, os famosos estudos randomizados duplo-cegos.

Os idosos que receberam vacinação para o vírus herpes zoster tiveram uma redução de 20% no risco de apresentar um diagnóstico de demência em um período de sete anos. Os efeitos foram ainda mais significativos entre as mulheres.

Um corpo bem razoável de evidências laboratoriais e estudos clínicos com metodologia mais frágil mostra associação entre infecções virais, incluindo herpes zoster, e o desenvolvimento de demência. A vacinação no presente estudo pode ter promovido uma melhora do estado imunológico geral, reduzindo o risco de demência, mas pode ter reduzido o componente inflamatório do cérebro ao inibir a reativação do vírus.

Já foi demonstrado que os herpesvirus podem provocar alterações vasculares e depósitos de proteínas no cérebro semelhantes aos encontrados na doença de Alzheimer. Herpes zoster é o mesmo vírus da catapora que fica quiescente no nosso sistema nervoso e, em idades mais avançadas, podem ser reativados.

Planeja-se agora um estudo randomizado para testar os resultados em outras populações. A vacina usada no estudo foi a de vírus atenuado (Zostavax®) que vem sendo substituída pela de vírus inativado (Shingrix®). Ambos os tipos deverão ser testados.

*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

RA
postado em 04/04/2025 18:52
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