Neurônios em dia

Ver estrelas durante o orgasmo pode não ser só uma figura de linguagem

Sensação de luzes, cores e formas durante o orgasmo pode ser efeito da sinestesia sexual — uma condição neurológica que começa a ser desvendada pela ciência

Ver coisas imaginárias no clímax pode ser mais real do que parece -  (crédito: Reprodução/ Freepik)
Ver coisas imaginárias no clímax pode ser mais real do que parece - (crédito: Reprodução/ Freepik)

Algumas pessoas relatam visões coloridas, em padrões ou com apresentação caótica, por vezes até cenas, na proximidade do orgasmo, durante o clímax e até no período imediato de recuperação após o orgasmo. A isso se dá o nome de sinestesia sexual, um tipo aparentemente incomum de sinestesia que tem chamado a atenção dos cientistas nos últimos anos, apesar de ter sido descrito ainda na década de 1970.

Sinestesia é uma condição que afeta cerca 4% da população e é reconhecida como um fenômeno de circuitos sensoriais cruzados. A leitura de uma determinada letra ou número, por exemplo, pode ativar a percepção de uma cor. Outra forma que não é rara são determinados sons que evocam experiências de cores.  

Ainda temos poucos estudos explorando a sinestesia sexual, mas os relatos já nos mostram que ela é mais comum com parceiros habituais em que existe uma relação de confiança e raramente ocorre no sexo casual ou na masturbação. Quase todos têm uma relação positiva com o fenômeno e dizem que a experiência sexual fica mais rica. Alguns têm a percepção visual associada a sons e relatam receio de ser uma manifestação de um quadro psiquiátrico como a esquizofrenia.

É muito frequente também a percepção distorcida de um estímulo sensorial fora da atividade sexual. Um exemplo é a síndrome de Alice no País das Maravilhas em que a pessoa percebe as coisas maiores ou menores do que realmente são. Esses pontos foram extraídos da tese de doutorado de Cathy Lebeau da Universidade de Quebec, no Canadá, em que entrevistou 16 pessoas com sinestesia sexual e que foi descrita na última semana por Kate Evans na revista Scientific American. 

*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

RA
postado em 10/07/2025 13:00 / atualizado em 10/07/2025 13:00
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