De acordo com um estudo da Universidade Atlântica da Flórida, publicado no jornal New Media & Society, o metaverso e a realidade virtual (RV) apresentam riscos para os jovens, os deixando suscetíveis ao discurso de ódio, bullying, assédio moral e sexual, ao aliciamento e a exposição indesejada de conteúdos violentos e sexuais. O estudo também revela que há diferenças notáveis nas experiências em relação ao gênero.
Os pesquisadores utilizaram como base para o estudo 5.005 jovens, entre 13 e 17 anos, que moram nos EUA. As vivências com dispositivos de realidade virtual — principalmente com os 12 tipos de danos, as estratégias de proteção utilizadas e as diferenças nas experiências entre meninos e meninas — tiveram maior foco na pesquisa.
O estudo aponta que 32,6% dos jovens têm um headset de RV, sendo 41% meninos e 25,1% meninas. Mais de 44% desses usuários já foram vítimas de discursos de ódio e difamação, enquanto 37,6% foram sofreram bullying e 35% enfrentaram assédio.
Também é revelado que:
- Quase 19% dos jovens sofreram assédio sexual
- 43,3% tiveram de lidar com trolling (usuário que busca insultar pessoas na internet através de mensagens, com o objetivo de irritar a vítima)
- 31,6% foram obstruídos maliciosamente
- 29,5% sofreram ameaças
- Cerca de 21% enfrentaram conteúdo violento ou sexual indesejado
- 30% foram alvos de bullying sobre peso, preferência sexual, orientação sexual ou por questões políticas
Diferenças entre meninos e meninas
Cerca de 18% dos jovens foram vítimas de aliciamento ou comportamento predatório — quando um adulto tenta construir uma confiança com menores de idade. Segundo o estudo, ambos os gêneros sofreram desse tipo de problema, em padrões semelhantes, porém a frequência foi maior com meninas, resultando no aumento da utilização de medidas de segurança — como "bolha espacial", "limite pessoal" e "zona segura" — em relação aos meninos.
Sameer Hinduja, um dos professores autores do estudo, afirma que as meninas estão mais propensas a selecionar avatares que podem ajudar na diminuição dos riscos de assédio. "Além disso, tanto meninos quanto meninas se sentem confortáveis em deixar salas ou canais do metaverso, como trocar de servidor em resposta a uma vitimização potencial ou real, embora, no geral, os jovens tendam a usar esses recursos de segurança com pouca frequência”, disse o professor em declaração.
“Certas populações de jovens são desproporcionalmente suscetíveis a danos como esse aliciamento, especialmente aqueles que sofrem de sofrimento emocional ou problemas de saúde mental, baixa autoestima, relacionamentos parentais ruins e fraca coesão familiar”, afirmou Hinduja. “Devido às características únicas dos ambientes do metaverso, os jovens podem precisar de atenção e suporte extras. A natureza imersiva desses espaços pode amplificar experiências e emoções, destacando a importância de recursos personalizados para garantir sua segurança e bem-estar.”
Recomendações
Os pesquisadores fazem algumas recomendações para que haja diminuição dos riscos provocados em jovens que utilizam o metaverso e VR:
- Utilização dos recursos de segurança oferecidos pelas plataformas;
- Pesquisas e desenvolvimentos na área, a fim de entender como atender às necessidades dos usuários;
- Simplificação dos mecanismos de denúncias das plataformas;
- Incentivo aos pais e responsáveis para que se familiarizem com os recursos de controle parental;
- Fornecer aos jovens o conhecimento e competências para navegar na RV e em outras tecnologias de forma segura e responsáveis;
- Inclusão, respeito e desencorajamento de qualquer forma de assédio garantidos pelos criadores.
"Ainda há muita promessa com essas novas tecnologias, mas é necessária vigilância quando se trata dos desafios únicos que elas apresentam, bem como das vulnerabilidades únicas que certos usuários jovens podem ter. Como tal, é 'todos a postos' para construir um metaverso mais seguro e inclusivo à medida que ele continua a evoluir", conclui Hinduja.
Confira o artigo original do estudo.
*Estagiário sob a supervisão de Roberto Fonseca