
Os vinhos chilenos são extremamente reconhecidos pela sua qualidade, sendo o Chile o 4º maior exportador de vinho a nível mundial. O vinho no Chile tem tanto valor como símbolo nacional, que ganhou um dia para comemorar sua importância e história. No dia 4 de setembro é comemorado o Dia do Vinho Chileno, a fim de manter viva a celebração dos quase 500 anos de história da bebida no país.
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A data do dia 4 de setembro foi escolhida por ter sido o dia que iniciou a história do país com o vinho, em 1545. Através de uma carta ao Rei Carlos V, Pedro de Valdivia pediu que fossem envinhadas “viveiras e vinhos para evangelizar o Chile”. De lá para cá, vinho e Chile se tornaram sinônimos, sendo atualmente o vinho chileno reconhecido como um dos melhores do mundo.
Para comemorar a data, tomar um vinho no conforto do próprio lar basta, mas a maneira ideal seria in loco, degustando o vinho direto da fonte e aprendendo ainda mais sobre a história e a potência da bebida. Esse ano pode não ter sido possível, mas já dá para começar a planejar como aproveitar a data no próximo ano. Conheça vinícolas que elevam a experiência de tomar um bom vinho a outro patamar.
Vale de Colchagua: ícone da produção vitivinícola
O Vale de Colchaga tem um dos maiores prestígios internacionais do país. Localizado no coração da região central, é ícone da produção vitivinícola no Chile, com vinícolas que produzem muito mais que vinhos premiados, oferecem também experiências que unem luxo, tradição e sustentabilidade.
A região está localizada a duas horas da capital Santiago e seu sucesso está na sua geografia. Por possuir colinas mais baixas, permite que as brisas do Pacífico interajam com os ventos andinos, resultando no resfriamento do vale e prolongando o período de maturação das uvas, o que proporciona vinhos com uma maior concentração de aromas e sabores mais complexos. Além disso, fatores como a riqueza do seu terroir e a altitude dos vinhedos também influenciam na qualidade dos vinhos produzidos.
O Vale de Colchagua é uma região que pode ser visitada o ano inteiro, proporcionando diferentes paisagens de acordo com as estações. Por isso, é importante se atentar para saber o que será encontrado durante a viagem. Nos meses de setembro a dezembro, na privamera, começam as renovações das uvas, já sendo possível encontrar os primeiros brotinhos. Já no verão, de dezembro a março, é o momento em que as parreiras estão cheias. No outono, de março a junho, as parreiras já estão sem uvas, pois as vindimas acontecem entre março e abril, mas ainda resistem algumas folhas douradas. Durante o inverno, os vinhedos estão mais secos e podados, se preparando para recomeçar o ritual na próxima estação.
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Visitar o Vale de Colchagua é uma imersão em sabores e na cultura chilena, cada garrafa conta uma parte da história do país.
O legado histórico da Viña Santa Rita
A Viña Santa Rita não está localizada no Vale de Colchaga, mas é uma ótima escolha para começar o enoturismo pelo Chile por estar a apenas 45 minutos de Santiago. Além disso, a vinicola, eleita diversas vezes como uma das melhores do mundo, é uma fonte de história do passado do país.
A Fazenda Santa Rita foi fundada em 1760, durante a Coroa Espanhola, e entrou para a história quando a corajosa viúva Dona Paula, proprietária da fazenda, abrigou 120 soldados chilenos que lutavam pela independência do país, um feito que eternizou a história do local. Hoje em dia é possível visitar o local em que os guerreiros foram abrigados, que se tornou a adega dos 120.
A Vinícola nasce em 1880, quando a Fazenda Santa Rita passa para os domínios de Domingo Fernández Concha. O empresário, por meio da introdução de maquinario especializado e enólogos eficientes, foi responsável por aprimorar a produção de vinhos com resultados muito superiores aos já obtidos no Chile — mudando a forma de fazer vinhos no país.
A visita à vinícola proporciona uma volta de mais de 130 anos, principalmente para os que decidem pernoitar no Hotel Casa Real, um casarão de 1882 que foi transformado em um luxuoso hotel-boutique. Combinando os estilos colonial e pompeiano, o local é um Patrimônio Cultural Nacional. Além do hotel, a propriedade também se mantém preservada. Ao lado do casarão há uma capela neogótica de 1880 e os jardins também transmitem os estilos que estavam em alta na época.
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Natureza e tranquilidade na Viña Maquis
Para quem busca uma experiência mais intimista e conectada com a natureza, a Viña Maquis é a escolha perfeita. A vinícola-boutique remonta aos jesuítas no século XVII, que plantavem vinhedos para a produção de vinhos na missa, mas está em posse da família Hurtado desde 1916.
A Maquis é comprometida com a sustentabilidade. Localizada entre dois rios, seu solo retém água, permitindo que as uvas se hidratem de forma independente pelo solo e pelo rio. Essa forma de irrigação, somada a temperatura local, resulta em vinhos mais suaves e delicados. Na vinícola, até o controle de pragas é inusitado: galinhas e ovelhas pastam entre as videiras, agindo como verdadeiras guardiãs do vinhedo, controlando pragas e mantendo o equilíbrio do ecossistema.
Grande parte da produção ainda segue de maneira artesanal e manual, buscando que suas uvas sofram o mínimo de intervenções possível e possam manter todo o seu potencial.
Design, arte e uma experiência sensorial na Viña Montes
A Viña Montes nasceu em 1987, da vontade dos sócios Aurelio Montes e Douglas Murray de produzir vinhos com uma qualidade superior ao que já era produzido. A Apalta, a vinícola da Montes no Vale de Colchagua, atualmente é uma das mais modernas em termos de tecnologia e equipamentos do Chile.
Contudo, seu grande diferencial está na sua abordagem holística e artística. A arquitetura da adega foi projetada com base nos princípios do feng shui, para criar um ambiente de harmonia e energia, onde a imagem de um anjo serve de proteção e benção. Outro curioso detalhe sobre a Montes é a forma de armazenamento dos seus vinhos, que são maturados ao som de canto gregoriano. Segundo os produtores, a melodia suave contribui para acalmar as uvas, garantindo um sabor ainda mais especial.
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A vinícola também preza pela sustentabilidade durante a produção de seus vinhos, prezando pelo meio ambiente e pelas pessoas envolvidas nas etapas. São adotadas medidas como: o bagaço produzido vira compostagem para reduzir o uso de fertilizantes, o sistema de irrigação acontece por gotejamento para diminuir o consumo de água e uso de cobertura vegetal natural para reduzir erosão e compactamento do solo.
Como forma de fazer o turista mergulhar mais ainda na experiência, a vinícola possui um restaurante para chamar de seu: o Fuegos de Apalta. O estabelecimento, sob a regencia do chef argentino Francis Mallmann, mentor de Paola Carosella, possui uma gastronomia impecável. Perfeita para poder alinhar um bom vinho com uma boa refeição, fugindo apenas da degustação e da rápida harmonização.
Hospedagem em meio aos vinhedos no La Playa Wines
O La Playa Wines é um complexo que permite uma desconexão completa com o mundo exterior, estando localizado a 30 minutos do centrinho de Santa Cruz, cercado apenas pelos vinhedos e pela natureza. Com a Vinã Sutil e o Hotel La Playa, o local proporciona uma experiência completa e muito exclusiva para os hóspedes.
O Hotel está localizado dentro da vinícola, que produz os vinhos das duas marcas e é possível realizar tours completos pela propriedade e pelos vinhedos, finalizando com uma degustação. A Sutil se destaca pelos vinhos mais encorpados, em contraste com a produção de vinhos mais frescos e frutados de La Playa.
Ao se hospedar no hotel, é possível viver a imersão completa, pois o empreendimento conta com o Restaurante Tinguiririca, que oferece café da manhã, almoço e jantar com gastronomia típica com produtos da região. O hotel ocupa um casarão antigo, que traz o aconchego de uma casa de vó — de luxo — em seus detalhes.
Viña Casa Silva: pioneira no Vale de Colchagua
A Fazenda Angostura foi fundada em 1887 pela família Bouchon e se destaca por ter parreiras de 1912. Mas só em 1978 que Don Mario Silva Cifuentes, casado com Maria Teresa Silva Bouchon (quarta geração), decidiu investir e restaurar os antigos vinhedos e a história da família francesa. Atualmente a Viña Casa Silva é 100% familiar e se dedica à produção de vinhos finos engarrafados desde 1997.
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A Família Silva, assim como seus ancestrais, é reconhecida como pioneira do Vale do Colchagua. Seus vinhedos e a qualidade de seus vinhos a tornaram a vinícola chilena mais premiada do século XXI.
Além dos vinhedos centenários, a estrutura da adega também se mantém preservada e proporciona para o turista a oportunidade de sentir a paixão de uma família que produz vinhos há mais de 100 anos.
A Viña Casa Silva possui um hotel boutique aconchegante dentro da propriedade da vinícola, no local que era originalmente a casa da Família Silva. Além disso, há o restaurante Club House, com uma belíssima vista para a Cordilheira dos Andes e gastronomia extraordinária.
Adega centenária na Viña Clos Apalta
A história da Viña Clos Apalta perpassa várias gerações da família Bournet-Lapostolle que se dedicaram à produção de vinhos destilados de alta qualidade. Quando a família fundou a vinícola tinha o objetivo de competir com os melhores vinhos do mundo. O objetivo foi alcançado pois a vinícola sempre está no top 50 de vinícolas para visitar no mundo.
A Viña Clos Apalta possui uma produção mais restrita de 200 mil garrafas por ano e mantém uma adega privada onde são guardadas 280 exemplares de cada safra, permitindo que os visitantes possam revisitá-las quando desejarem.
O destaque da propriedade é o design da construção da adega, que vista de fora se assemelha a um grande barril de maturação de vinho, entretanto, a ideia original do arquiteto era que parecesse um ninho de passarinho. Por dentro também impressiona por ser uma estrutura gravitacional de sete andares voltada à pesquisa, produção e guarda dos vinhos.
A degustação também é um espetáculo à parte com os vinhos oferecidos, que além de serem extretamente exclusivos, também proporcionam que o turista possa experimentar um Clos Apalta 2013, disponível atualmente somente na vinícola.
História dos antepassados na Viña Santa Cruz
Muito mais que apenas uma visita à vinícola e degustação tradicional, a Viña Santa Cruz proporciona uma aula completa sobre a história dos antepassados, como forma de respeitar as raízes culturais e valorizar a herança dos povos indígenas Mapuche, Ayamara e Rapa Nui. As culturas também são inspiração para os rótulos produzidos pela vinícola.
Além da aula de história, a Viña Santa Cruz também traz um toque de aventura na visita. É através de um teleférico, onde é possível contemplar toda a bela propriedade da vinícola, que se chega ao espaço onde será possível não só ouvir as histórias das culturas, como também visitar espaços dedicados a elas, com réplicas de casas e objetos utilizados. É uma imersão completa.
Mesmo sendo uma vinícola, o tour é para a família toda. Além das atividades oferecidas também serem diversificadas para crianças, a Santa Cruz também possui lhamas, que vão entreter os pequenos — e até os mais velhos. Na vinícola ainda há um Museu do Automóvel.
Mas não é só na vinícola que a Santa Cruz dá uma aula de história completa, no Hotel Santa Cruz Plaza, a aula é ainda maior. O hotel abriga o Museu do Colchagua, que conta a história de toda a vida humana na terra, tendo objetos e réplicas de vida de 400 milhões de anos atrás até os dias atuais. Passear pelo museu é conhecer mais ainda da formação do nosso planeta, da história humana e até mesmo de fatos históricos do Chile, como o resgate dos 33 mineiros que ficaram 69 dias presos na Mina San José.
Na sua próxima viagem para o Chile, não deixe de incluir o Vale do Colchagua e, quem sabe, até se organizar para comemorar o Dia do Vinho Chileno por lá.
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