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Um repertório de memórias

Quando o tempo dobra e a alma canta, memórias que ecoam como acordes antigos, entre lembranças e melodias, o tempo se revela. O passado não volta, mas pode ser celebrado.

Um repertório de memórias -  (crédito: Uai Turismo)
Um repertório de memórias - (crédito: Uai Turismo)
Um repertório de memórias (Foto: Jasiel_Ch/ Pixabay)

Há momentos na vida em que o tempo parece se dobrar, trazendo de volta partes bonitas de nossas vidas e que ficaram marcadas na alma.

Foi assim quando recebi o convite para me apresentar cantando no aniversário de 60 anos de uma amiga muito especial. Como o tempo é intrigante, os anos se passaram e na memória, parece que tudo aconteceu recentemente.

De repente, me vi de volta às décadas de 80 e 90, quando éramos bem mais jovens, sonhadores, curiosos e vivendo as emoções dos palcos com o “Grupo Amanhecer”, eu com meu violão bastante discreto e tímido e oferecendo minha voz, com mais coragem e os meus amigos completando o grupo em meio a flautas transversais, teclados, guitarras, baixos e percussão.

Quantas lembranças cabem em uma amizade consolidada pela música? Eram tantos ensaios que pareciam não ter fim, festivais de música em que levávamos a alma para o palco, barraquinhas animadas, em festas pelos bairros no interior de Minas, e aquela sensação única de que a vida estava apenas começando.

Éramos guiados pela música e seguíamos embalados, sempre com a esperança de mais reconhecimento e de oportunidades, numa época em que tudo parecia possível.

Um convite que traz emoção

Hoje, com este convite, sinto uma mistura de emoção e coragem ao preparar um repertório que resgata essa parte tão bonita da nossa história, de certa forma, para homenagear essa amiga querida, que resgatou o tempo com este estimado convite para este momento.

Lógico que aceitei o desafio, mas disse que não ousaria enfrentar a animação de uma festa inteira, ainda mais, para um público certamente exigente e que estará ali para pura diversão.

Refleti bem e escolhi músicas que marcaram nossa época e que ainda ecoam na memória coletiva. Foi aí que percebi com mais clareza, como fomos sortudos de termos como referência musical, autores como Djavan, Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Oswaldo Montenegro, Renato Russo e intérpretes tão icônicos que, de alguma forma, também nos formaram como pessoas e verdadeiros artistas.

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Hoje em dia, assumidamente geógrafo e com uma agenda de atividades socioambientais em comunidades Brasil afora, assumir o papel de cantor em uma festa é algo que não é meu hábito, é um gesto de amizade e gratidão pela vida que estamos vivendo.

Músicas para recordar e celebrar

O setlist que preparei traz uma seleção de músicas que remetem aos anos muito especiais de nossas vidas, época em que compartilhávamos vivências musicais e pessoais. O repertório foi dividido por grandes nomes da MPB, um pouco do pop/rock brasileiro, além de composições autorais, que não poderiam faltar, afinal, somos da geração dos festivais da canção.

Djavan aparece com clássicos românticos e sofisticados como Um Amor Puro, Sina e Eu Te Devoro, músicas marcantes como A Rita, Olhos nos Olhos, Cálice e João e Maria, trazem a luz a obra de Chico Buarque, referências afetivas e urbanas em Sampa, Leãozinho e Força Estranha, põem Caetano Veloso em cena, hinos emocionais como Maria Maria, Canção da América e Coração de Estudante, homenageiam o maior de todos, Milton Nascimento, sempre tão perfeito. Bandolins, Agonia e Lua e Flor, resgatam a poesia dos festivais, com a intensidade de Oswaldo Montenegro.

Mais do que uma apresentação musical, este encontro será uma celebração da vida, das nossas raízes e dos laços que o tempo, afastou, mas não desfez.

Estar novamente ao lado de amigos tão marcantes, nesta data tão especial, significa reviver anos memoráveis das nossas vidas e, ao mesmo tempo, afirmar que a música continua sendo nossa ponte com o passado, nosso presente de alegria e nosso futuro ainda esperançoso.

Mas o tempo não volta. Hoje, os palcos são outros, as referências mudaram, e a indústria da música se transformou em um mercado acelerado, dominado por algoritmos e artistas passageiros e descartáveis.

O brilho simples e intenso da nossa juventude, vivido nos palcos das festas de bairro e nos festivais, pertence a um tempo que não se repetirá. Essa certeza não diminui a memória pelo contrário, valoriza ainda mais cada lembrança, já que revela o quanto fomos privilegiados por viver uma época em que a música era encontro, construção coletiva e a verdadeira resistência cultural.

É com essa consciência que participo deste momento neste fim de semana. Não para competir com os ídolos de ontem nem com o ritmo apressado de hoje, mas para celebrar a amizade, a música e a vida. Preparar este repertório foi um gesto de coragem e de amor. Amor pelos amigos, amor pela música, pela história que escrevemos juntos e pela oportunidade de sermos lembrados em um momento tão especial.

Se ontem tocávamos sonhando com reconhecimento, hoje tocamos com a certeza de que estarmos aqui já é a maior forma de reconhecimento e isso me enche de alegria e gratidão.

Depois conto como foi!

Até a próxima.

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ubiraney.silva - Uai Turismo
postado em 11/10/2025 06:37
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